domingo, 24 de junho de 2012
quinta-feira, 21 de junho de 2012
O menino que não era de papel
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Samba da separação
Pegue suas roupas e retire tudo que é seu daqui,
pode levar..
Tire aquela camisa velha que eu usava de pijama,
e leve junto todo aquele sentimento que vinha com você
Chega, e chega sem querer
Vá saindo,
da minha vida, do meu corpo e das minhas ilusões
Ahhh... das minhas ilusões
Vá arrumar confusão em outro coração...
outro bobo pra servir de sua nova paixão,
alguém pra você usar de remendo
Chega
E todo mundo já tinha me avisado que não ia dar em nada,
que você é caso perdido, papel amassado
Mas eu pensei,
bem sei lá, as vezes o acaso ou qualquer outra força ia juntar os nós
e bem, bem você também não fez
Sei que você podia ficar,
e eu sei, é, eu também sei que eu poderia aguentar
por dias, meses a até anos quem sabe,
a gente brincando de amar, odiar,
enrolando perna com perna,
peito com abdômen, num jogo sem fim,
só pra ver sair fogo do atrito
E eu sempre assim, tão crua, tão sua,
ainda parada na espera da espera
Mas não, vá fazer seu carnaval em outro lugar,
pois se você não viu, já passou da época
é, você tá passado de época
Você tá passado em mim
Não sei o que me deu, que é que se deu,
que hoje eu não tô afim
Vá homem,
que hoje tô com o coração cheio,
o cabelo acordou brigado comigo e logo vou aproveitar,
hoje o meu samba é pra que você se vá
E vá...
E vá..
Você e sua tortura em outro lugar
Não mais do lado de cá
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Meu nome não é José
Um dia José foi embora. Não deixou bilhete de adeus nem nada, apesar de saber da beleza triste que o adeus tem. José saiu. Saiu de casa, dos antigos amigos, dos seus medos, da antiga vidinha medíocre que ele havia levado até então. Ele apenas cansou-se de ser José você me entende? Ele começou a pensar "Que porra de nome é esse que me deram? Eu não me sinto como José, quero inventar meu próprio nome". Esses pensamentos começaram a consumi-lo, ele ficava pensando em Roberto, ou em um nome composto talvez, ele sempre achara tão chique nomes compostos. Em seu trabalho ficava cantarolando e dançando músicas que jamais havia escutado. Na igreja enquanto todos clamavam e pediam e pediam, José travava uma luta interna, como se brigasse contra alguma coisa, como se não entendesse bem como deveria comportar-se ali. Sentia um nó no peito inexplicável a todos os instantes. Em todos os lugares José sentia desejos estranhos, que ele não podia identificar bem, mas sentia que deveria disfarçá-los. As vezes ele saía a noite e via umas cores no céu, rosa, lilás, azul, noutras era tão escuro que nem ele se via. Depois ele voltava ao normal. Depois sua vida voltava as mesmas cores cinzas. Quando estava só, subia em cima do telhado de sua casa e por muitas vezes sentiu-se o Rei do mundo. José nunca conseguiu explicar essa sensação. Quem sabe ele realmente era. Seus pensamentos começaram a ficar mais intensos, arrogantes e mal-educados, eles não escolhiam mais lugar para aparecerem. Não importava onde ele estava nem com quem, sua cabeça não o deixava em paz. Quase sempre cheia de "por quês", o que estava fazendo ali, se o que ele sentia era o "para sempre" ou se toda sua vida era só um sonho. José achou que estava louco, ficou triste, revoltado, sempre fizera tudo que lhe pediam, ia a igreja comungar, tinha um trabalho que lhe ocupava o dia, uma namorada que ia casar, pensou que era um tipo de doença ou sarcasmo de Deus, mas que mal ele haveria feito meu deus?, José assim pensara. Aquela luta de José com algo que ele não podia denominar estava lhe tomando tudo. Ele rasgou suas roupas, e passou 3 dias andando pelas ruas pra ver se sua angústia passava. Então começou a ver árvores, flores e o céu se movimentando e conversando com ele, e nessas horas sentia-se momentaneamente pleno. Não sentia fome, frio e nem medo, só algo queimando dentro dele. E para José como era difícil não ter um nome para pôr a culpa, para descarregar a dor, sabe como é? Ele estava cada vez mais lúcido. Sua namorada levou padre, pai de santo, pastor e o que mais fosse, chegaram a um veredicto: José estava com encosto. Nada o curou. As pessoas o viam nas ruas e pensavam: pobre rapaz, tão jovem, com uma vida inteira já pronta pela frente. Aí ele sentia mais dor. Será que ninguém nesse mundo ou em outro poderia o compreender? É meu amigo, você está sozinho nessa, talvez nem você nunca vá. José, José.. Nada mais lhe cabia, sem trabalho, sem mulher nem amigo. José começou a sentir-se pleno, como em raras vezes sentira, e apesar de não entender exatamente como, foi assim que decidiu ir embora. Pôs que pôs na cabeça que seu nome não era José, que havia sido um erro técnico, falha do cartório, e não tinha quem tirasse isso dele. Vestiu a roupa de um digno Rei do mundo, pois era assim que ele se sentira, e resolveu tomar posse de tudo que era seu. Saiu pra curar aquela dor terrível que o corroía por dentro. Decidiu que seria mais sensato deixar que as coisas que ele sentia se expressassem independente da forma que elas assumissem. Resolveu uma vez na vida ser bom com ela. Buscaria aquela sensação de plenitude, e não usaria mais roupas se para isso fosse preciso. Descobriria o quanto se dura a eternidade, e o mais importante, arrumaria outro bendito nome pra ele. A que custo fosse. José queria ir até o fim dele mesmo. Ele levara a sério aquela história de Rei do mundo e de si mesmo. Depois de 28 anos finalmente José poderia se conhecer, crú, exposto, na carne viva. Começou tentando se livrar de velhas culpas, e de certas pessoas também. Achou por um minuto que se tentasse ser o melhor com ele mesmo, somente assim poderia sentir-se gente de novo. Vivo em vida. E pela primeira vez ele viveu, e de novo e de novo. Alguns dizem que ficou louco. Só sabe-se que ele nunca mais voltou. Sabe-se lá que nome tem agora.
Assinar:
Postagens (Atom)