terça-feira, 7 de agosto de 2012


São Paulo, 21 de Julho de 2000.

Querido Antônio,

Sim, perdoe-me as formalidades, perdoe-me o "querido" logo no início do que lhe escrevo. Mas é que.. tenho saudades, e carinho por ti também. Pode ser esse carinho formal se assim preferir. Tenho visto tuas fotos, tenho visto que andas rindo.. Por falta de mediação melhor vou escrever logo sobre o que me vêm à mente. Você era tão.. tão.. como eu poderia dizer, puxa! Você era um desses rapazes cultos, você era sonhador sabe.. E não me entenda mal quando te "defino" assim, não que você não gostasse de euforia, de rir por rir, desses prazeres baratos mesmo que a gente tem e precisa, mas você era tudo isso junto, e entendia a medida necessária de cada coisa para sobreviver. Você conhecia aquelas mocinhas e logo ia perguntando: "Qual seu filme predileto", "E o seu autor?", "Quer uns livros emprestados?", era até divertido de se ver. Você quase que se desesperava pra buscar aquilo que faltava, tentava e tentava até não dar mais. Perguntava se elas estavam bem, ou falava qualquer frase para ver se despertava qualquer assunto filosófico, e como você gostava de falar desses assuntos.. Todo calmo, dava um longo suspiro, e depois de gaguejar um pouco ia dizendo "Eu.. acho que..", e todo sensato ia falando sobre nossas enfermidades por viver nesse mundo. O que eu mais gostava, era a sua habilidade de se colocar também dentro de tudo, você sabia reconhecer que você também fazia parte daquilo, e sempre deixava em aberto. Recordo o quanto sentia-se mal por ficar forçando aqueles assuntos, aquela coisa de "nós somos únicos no planeta". Sentia-se culpado, quando denominava as pessoas entre "vazias", "cheias", e que definitivamente o problema era você. E como o resto do mundo faz deus?? Você se perguntava.. E voltava mais uma vez pra casa meio frustrado, achando que amanhã você poderia se distrair. Mas também você não era denso, daquelas pessoas que deixam o clima pesado sempre. Não.. você era leve, inteiro, e sabia dar a cada momento o que ele pedia. Na maioria das vezes você afligia-se sozinho, e mais uma vez sozinho carregava e disfarçava suas frustrações. Na verdade a maioria das pessoas achava que você nem sofria desse tipo de coisa, imagine só o que iriam dizer.. Não que você quisesse uma empatia intelectual, existencialista, romântica e blá blá blá.. Você só queria que tivesse um pouco de tudo. Nesses últimos dias percebo que anda cansado, confuso. Acho que se convenceu de vez que tudo isso é utopia, e que.. As pessoas devem aprender a observar outras coisas, e deixar outras surgirem. Começou a ler uns textos que diziam que a empatia corporal é tudo, e que as pessoas não devem ficar se torturando em debates filosóficos internos infinitos. E você pegou isso mesmo pra si. Eu entendo o seu cansaço querido.. Porque você percebeu o quão frustrante era ficar forçando essas situações, buscando algo que nem você sabia direito o que era. Então você foi tentando não pensar tanto nessas coisas, e deixando de ser tão cruel consigo mesmo e com os outros. Aposto que nunca mais mostrou pra nenhuma ficante aquele seu blog de poesia. Que culpa aquelas moças tinham de não se sentirem tristes ou vazias, e veja bem, não confunda as qualificações.. Elas eram educadas, inteligentes, gentis. Só não.. só não.. tinham algo como diz você. Quem sabe nesse universo cheio de possibilidades, eu possa Existir(em letra maiúscula mesmo) em uma nova configuração, repetia você. Sempre tão otimista. Confesso que te escrevendo tudo isso já não sei mais se estou falando de ti ou de mim.. Mas esse deve ser o caminho certo, correto? Novamente não sei mais como terminar esse texto, já que me vi também ao te escrever essa carta. Mas enfim, como o curioso que és sei que está aceitando bem esse encargo, e se divertindo com tudo isso. Ora, vamos ser positivos, essa nova perspectiva será alegre, com vida, e não menos humana por isso. Está só remoendo um antigo hábito cultivado com tanto zelo, logo não irá incomodar.. Você é como todos agora! 

Um abraço e um beijo,

De uma velha conhecida.

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