quinta-feira, 18 de outubro de 2012


"..Meu ser amado poderia ser um quadro no qual minha perfeição fosse retratada em toda a sua
magnificência e esplendor — mas será que as nódoas e manchas também não apareceriam? Para limpá-las
— ou escondê-las, caso sejam pegajosas demais para serem apagadas —, é necessário lavar e preparar a
tela antes de se iniciar o trabalho de pintura. E depois observar cuidadosamente para garantir que traços
das antigas imperfeições não venham a surgir de seu esconderijo debaixo de sucessivas camadas de tinta.
Cada momento de sossego é prematuro — restaurar e pintar de novo, sem folgas...
Esse esforço incessante é também um trabalho de amor. O amor explode de energia criativa, que
inúmeras vezes é liberada numa explosão ou fluxo contínuo de destruição.
Nesse processo, o ser amado transformou-se numa tela — em branco, de preferência. Suas cores
naturais empalideceram, de modo a não se chocar com a figura do pintor, nem desfigurá-la. O pintor não
precisa indagar da tela como esta se sente, lá embaixo, sob toda aquela tinta. As telas de lona ou de linho
não apresentam relatórios voluntariamente — embora as telas humanas por vezes o façam.."
Amor Líquido- Zygmunt Bauman


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