quarta-feira, 4 de abril de 2012

Mande um beijo à Mamãe e ao Papai

Sonho contigo. As vezes tens cara de bicho, as vezes de gente. Recordo-me sob uma janela embaçada tanta coisa. As vezes ainda me dói o quanto tento atrair teu afeto, ser merecedora dele. De tanto você me ensinar a ser forte e a engolir o choro, de dizer que as pessoas não podem ser tão sensíveis assim, acho que aprendi como se deve ser. As vezes parece que vivemos em dois mundos. Vocês aí, vendendo esse lar que me falta tanto, as discussões e brincadeiras. Constantemente nos pegamos em conversas do tipo:  ''Oi, tudo bem? Como estão as coisas?'', como são com os conhecidos, noutras nem a isso nos damos ao trabalho. É que é superficial demais, a realidade concreta iria doer se soubéssemos da verdade: nós não moramos mais no mesmo mundo. Eu aqui, ora feliz por saber que sou humano e posso existir em paz, ora com saudades, vazia. Como já escutei algum dia, e creio que seja bem assim mesmo, algumas vezes dói estar longe, noutras é um alívio. Tento em vão perguntar, ''Tá tudo bem?'', ou ''Você está triste?", nada me responde do outro lado da linha. Você não quer me magoar, talvez ache que eu não devo me atordoar com isso. Tento despertar algum sentimento, qualquer coisa, só pra saber que ainda temos algo em comum. Sei também que nossos momentos tornam-se constantemente privilegiados (tempo, tempo, você outra vez). Lembro-me também dos gritos, das discussões, de um desejo estranho que algo se concretizasse de uma vez. Mas já faz algum tempo que parou de doer sabe, nunca mais nos preocupamos com isso, acho que vocês também não. Será que meu perfume novo não tem mais o cheiro da minha antiga casa? E o que mesmo posso denominar de casa? Nem um nem outro, nenhum dos dois lugares acalmaria isto que chamo de alma. Talvez eu esteja mesmo meio só, e não acho que seja bonito ser assim não. Um misto de culpa, necessidade e alívio. Sou um desgarrado agora. Vivo fora de casa.

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