segunda-feira, 28 de maio de 2012

Reza a reza do sertão


Deita que o coro que arde e queima a pele,
que a vida que grita ainda é a mesma que te faz dormir
Espera, não espera, não espera
que quem esperou ainda tá no mesmo lugar

Olha o que o olho tá te mostrando,
ele tá deixando na carne viva pra tu vê,
ele sempre deixa tudo pra gente vê
Mas você não viu,
tava correndo demais, só não sei de quê ou pra quê
Me diz aí, me diz você

A semente virô flor, as borboleta foram embora, faz tempo que não chove aqui
Não, isso tu também não viu
Tá tudo seco, dentro de tu também
Eu sei que tu sente dor pelos "buraco" que te fizeram,
não, não tô falando daquela cicatriz não

Mas só vô te dizer uma coisa,
teu buraco tá ficando cada vez maior,
daqui a pouco tu se afoga nele e nem cristo pra te tirar daí
Eu sei que tu sente dor, eu sei, mas não é isso que eu quero falar

Faz tempo que tu esqueceu daquele forró pé de serra
que a gente dançava, das tardes no sítio embaixo das árvore,
Daquele dia que a gente achou que ia vivê pra sempre

Porra cabra, vô te falá que sinto tua falta viu,
acho que tu esqueceu de olhá de novo pra vida,
ficô sentado esperando a vida que tu sonhava,
sentado esperando a vida que tu sonhava..
E a vida te levou cabra.

Tu não deixou ninguém te amar,
e culpou todo mundo pelos buraco que só tu podia consertá
A vida não vai te deixá dormir não

Eu quero é vê quem não se comove com sol da manhã,
alguém pra te escutar, e homem passando fome
Eu quero é vê

Faz tempo que tu não fala,
faz tempo que não escuto tua voz,
tu só fica repetindo aquela conversa de "quando eu for, quando eu tiver.."
Acorda hômi! Tua solidão aí te corroendo e tu querendo o quê?
Quer preencher o coração é?

Já cansei de te avisar que a vida passa e tu nem vê,
só cuidado pra esse teu abismo aí não te levá pra longe de mim demais
Reza a lenda que no sertão hômi que seca por dentro vira areia também  num sabe?
se mistura com a desertidão da paisagem

Caminho das Águas


Me faz fundo
Quero ser paisagem
Como um desenho sutil que quase não se nota,
de tão pertencente que ele é
Não miragem, não, não miragem

Quero ser parte do que é belo,
não porque é perfeito,
mas justamente porque é real
Porque tem riso,
tem choro, alegria e euforia,
mau-humor,
e muita muita vontade de existir,
se fazer viver em paz

Como em uma brisa,
canção, exílio pra alma
Que essa canção leve toda a vontade de ser,
e deixe somente o que é
Venha como recinto para que eu possa ser o meu deus,
e para que eu sinta deus na vida também

Repousar acordado do inferno que é viver,
sem preposições, argumentos ou contradições
Voltar ao lugar aonde o silêncio têm seu valor,
e antigos perfumes não servem mais para essa estação

Deixar que a carne se misture, a pele, o suor,
que vire uma nova composição,
que o vento leve, a água lave, e o sol queime
Tudo leve leve, terno e com cheiro de lar

Por fim sem fim,
olhos abertos para o que me comove,
para lembrar-me sempre que sou passageiro,
apenas viajante desse pequeno lugar

domingo, 27 de maio de 2012

Tortura das (minhas) Horas

Não tenho o que falar. As palavras foram tomadas de mim como nas outras vezes. Fiquei aqui. Fiquei só. Fiquei pairando em minhas lembranças, delírios, e em minha felicidade vazia. Fiquei e fiquei sem justificar. Sem fazer cara de perfeição. Sozinho recitando minhas velhas poesias e vendo o sentido apenas nisso. É tudo que eu aprendi a fazer. É o que sei fazer de melhor. Vou me recolher, apenas assim. Não sei até quando. Não é bem isso o que desejo. E o nó dos mundos que há em mim. E esse desassossego que não me deixa dormir. Pra viver tem que sentir todas as sensações. Pra viver tem que ter algum tempo de reclusão. Pra viver tem que ter tanto, e ao mesmo tempo nada. Tem que ter paz. Mas como ter paz meu deus, com uma bola entalada na garganta que não te deixa respirar direito? Que não te deixa parar de questionar o sentido das coisas, o caminho do ser. E são tantas confusões. Um monólogo de duas vias, e que insiste em mudar a direção do olhar, sempre para o outro lado quando confrontado. Perco a paz e ainda sim prefiro o silêncio. Não sou habilidosa com as palavras. As vezes me dói o peito, e me dói muito. Acho que parte da dor é por não saber de onde ela vem, as vezes ela coexiste com minha respiração. E dói ser assim. São dois altares que habitam em mim, em uma guerra sem paz, uma batalha sem vencedores. O olhar distante de todas as coisas que me cortam por dentro, a existência e as respostas que eu nunca terei. Por outro, a vida linda e sua simplicidade, a beleza de viver o presente. A resposta deve ser acostumar-me a falta dela. Culpa do Fernando Pessoa chacoalhando demais meu coração. Você me deve essa.
“Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.”
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)- Passagem das horas

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Mistura heterogênea


Mania essa de ficar procurando o quê das coisas, o seu sentido subliminar, suas pequenas e grandes belezas. Você ainda vai enlouquecer desse jeito. Tem papo mas não tem química, tem “física’’ mas não tem papo, é bonito mas não tem nada haver, e por aí vai, e por aí a gente segue meio perdido nesse emaranhado, buscando direito nem sei o quê. O que sabemos é que nunca estamos satisfeitos. Um “tudo bem” nunca é pleno. Nessas horas seria bom lembrar que a insatisfação é parte da natureza humana, as coisas nunca seriam como gostaríamos que fosse. Primeiro porque (grande)parte do que imaginamos é idealizado, ou seja, não existe na realidade, e a outra é de que a realidade pode ser muitas vezes surpreendente, assim como os contrastes e as cores. As vezes penso que essa tal de felicidade deveria deixar de ser tão esnobe e começar a usar chinelos de dedo, sempre tão alta, sempre tão superior. Mania de ficar buscando cheio, vivendo cheio, coisa feia isso. Os momentos não precisam ser vividos integralmente, como se cada instante devesse me dar uma sensação intensa e plena (não posso esquecer-me dessa observação), cada situação tem sua beleza, e juntas fazem sentido. Não precisam ir a fundo de si. Mais leveza a essa vida amarga e à nossa “amarguez” por favor! Buscando a plenitude, a serenidade, o desejo e o tormento, tudo junto, de uma vez só. Esquecemo-nos de nós. Dos nossos inúmeros medos, dos dias em que estamos chatos, ou o quanto também somos fúteis. Nada disso é fácil. Mais fácil é enquadrar logo, o feio que é legal mais feio, a amiga que é interessante mais impaciente, o namoro que precisa virar casamento.. Olhar para essa mistura complexa de que somos feitos, com o olhar de que também somos parte dela, e o melhor, que enquadrar-nos é mero romance teórico. Amo literatura mas não sei nada sobre Geopolítica, adoro a natureza mas odeio atividade física, admiro a simplicidade da vida mas morro de medo de me expor para as pessoas. Confuso não? Bem-vindo também. Nem por isso devemos ser separados entre bons e maus, virgens e pervertidos, covardes e corajosos.. Pois somos formados essencialmente dessa confusão, e é isso que dá beleza a coisa. Transformamo-nos a cada instante, e como diria Mário Quintana,"nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar."
E mais, surpresas agradáveis estão aí o tempo inteiro para dar uma tumultuada nas tardes vazias. Amadurecer também significa perceber essas pequenas coisas. Por isso, da próxima vez que pensar em sair correndo, espero relaxar um pouco e pensar “calma, é calado mas é interessante”. 

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Mergulho de rio


Tem dias que a gente só espera. Espera por um encontro, por uma festa, uma prova, pelas coisas que ainda hão de melhorar. Tem dias em que a gente não se contém de tanta ansiedade de querer. Sempre no outro dia. Hoje eu quero pensar em 1 minuto, somente nele. Do meu cansaço que meu corpo denuncia, da minha falta de vontade de soar inteligente, desse ventinho que passa por aqui e me faz sentir uma sensação boa. Sim, o mundo vai continuar doente, as provas não vão deixar de existir, e talvez todos nós continuemos incuráveis. É.. o mundo não vai deixar de rodar. Hoje eu respeitarei 1 minuto em mim. E tudo que eu peço dele. E tudo que ele pode me dar. As vezes isso é tudo. Quantas vezes as coisas falam por si, e nós as calculamos, medimos, e não fazemos o essencial, escutá-las. Deixar que elas se mostrem como são. As vezes é só isso. Sem esse negócio de futuro, passado, nem nada disso. Deixa o vento entrar, a vida me comover nesse instante. Sem muito. Sem essa culpa de algo que não foi feito. Sem essa condição do ser humano de ser feliz ou triste, vazio ou cheio. Deixo entrar, pode vir. Noutro instante não sei o que será, mas me prometi que isso não seria o mais importante agora. É.. as questões existencialistas não vão deixar de existir, nem por isso eu irei. Aceito esse momento, pode tomar conta de mim. Amanhã sempre será outro dia, independente da perspectiva. Por ora eu deixo o vento falar por mim.

domingo, 13 de maio de 2012

Queima de estoque


Deus que me livre de mim mesmo.
E dessa mania de querer, e ser, e ser..
Deus que afaste de mim esse ego enorme, essa vaidade maldita.

Não sei como aconteceu,
na loja eles não avisaram que haveria o risco de eu me tornar robô.
Não doeu, não demorou, nem consentido ou o contrário disso.

Esses dias mesmo fui vendido, 15,99, estava na liquidação.
Num cantinho da cesta, na seção da coleção passada.
É, eu realmente estava mesmo meio passado.

E nos potinhos dos remédios, nas roupas das lojas,
nada de cápsulas, nada de tecido,
o que vendem-se são as promessas de felicidade, liberdade e
irresistibilidade.
Instantâneos, e à pronta entrega de preferência.
Quem poderia dizer não?
Eu também não..

Na televisão, nos comerciais, nas pessoas,
de um consumismo agressivo,
que fere só de se estar perto.
Creio que assim tornamo-nos animais novamente pouco a pouco,
onde querer e comprar se tornou tão natural quanto viver (sem ''demonizar'' nada disso).

Errei a mão no caminho e fiquei assim,
meio que como todo mundo,
meio branco.
Era impossível não digerir um pouco do que me era dado.
Sinto sede e fome, e é óbvio, de muitas coisas.

Não tenho mais nada a dizer,
pois chio agora baixinho,
cheio de sentimentos estranhos,
e muito branco dentro de mim.
Nem quero dizer mais nada,
pois agora sou apenas mais um produto de liquidação.