Não tenho o que falar. As palavras foram tomadas de mim como nas outras vezes. Fiquei aqui. Fiquei só. Fiquei pairando em minhas lembranças, delírios, e em minha felicidade vazia. Fiquei e fiquei sem justificar. Sem fazer cara de perfeição. Sozinho recitando minhas velhas poesias e vendo o sentido apenas nisso. É tudo que eu aprendi a fazer. É o que sei fazer de melhor. Vou me recolher, apenas assim. Não sei até quando. Não é bem isso o que desejo. E o nó dos mundos que há em mim. E esse desassossego que não me deixa dormir. Pra viver tem que sentir todas as sensações. Pra viver tem que ter algum tempo de reclusão. Pra viver tem que ter tanto, e ao mesmo tempo nada. Tem que ter paz. Mas como ter paz meu deus, com uma bola entalada na garganta que não te deixa respirar direito? Que não te deixa parar de questionar o sentido das coisas, o caminho do ser. E são tantas confusões. Um monólogo de duas vias, e que insiste em mudar a direção do olhar, sempre para o outro lado quando confrontado. Perco a paz e ainda sim prefiro o silêncio. Não sou habilidosa com as palavras. As vezes me dói o peito, e me dói muito. Acho que parte da dor é por não saber de onde ela vem, as vezes ela coexiste com minha respiração. E dói ser assim. São dois altares que habitam em mim, em uma guerra sem paz, uma batalha sem vencedores. O olhar distante de todas as coisas que me cortam por dentro, a existência e as respostas que eu nunca terei. Por outro, a vida linda e sua simplicidade, a beleza de viver o presente. A resposta deve ser acostumar-me a falta dela. Culpa do Fernando Pessoa chacoalhando demais meu coração. Você me deve essa.
“Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.”
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.”
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)- Passagem das horas
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