quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Redenção

Não posso mais me desculpar,
e isso é um desabafo.
Já fiz remendos e remendos pra que eu passasse fino,
despercebido, como qualquer pedaço de gente que zanza por aí.
Mas não posso mais,
não posso mais continuar a sentir-me assim,
culpado apenas por carregar tudo isso.
Procurando um ser no planeta pra dar aval de mim,
que me perdoe e se torne especial por tamanha singularidade.
A moldura desse retrato deve ter meu traço,
sem migalhas espalhadas por aí.
Não aguento mais forçar sorrisos, 
destilar palavras e palavras, 
participar de discussões vãs,
ilusões,
reuniões sociais,
de estar onde não quero estar.
Tudo isso tira-me um pouco de mim a cada instante.
Esgota-me o sim,
me retorcer e me calar depois do consentimento.
Não posso mais nutrir-me de promessas,
que tanto alimentam as idealizações que quero esquecer,
não posso mais beber desses mesmos sonhos nojentos.
O difícil é fazer,
como se eu fosse assim,
claro assim,
como num retrato. 
Então repito,
não devo e não vou pedir perdão por ser,
essa cruz já arrastara-me por tempo demais.
Deixando aos poucos meu traje de palhaço eu vou,
cada dia retiro um pouco de maquiagem,
e passo mais um pouco de pó,
e choro no meio de tudo isso. 
Assim eu vou.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Tropeço no escuro

Tem alguém aí?
Acho que alguém apagou a luz e estou sozinho novamente. Acordei agora assustado e, por mais que eu não queira admitir, acho que estou com medo. Sei que homens não choram e blá blá blá, mas acho que não têm ninguém vendo.. né? Na verdade não sei direito como vim parar nesse quarto, quer dizer, acho que várias coisas me trouxeram até aqui, o que não sei bem é porque permaneci por tanto tempo, pode ter sido aquele cheiro familiar do mofo.. O que quero dizer é que estou aqui. Que eu me lembre não estava sozinho quando cheguei, tinham algumas pessoas comigo, nós passávamos algum tempo juntos, tempo bom, tempo atoa, tempo só, tempo. Mal de gente soli(tá-dá)ria. Estava tudo uma bagunça, roupa pra todo lado, sapato dentro do guarda-roupa, pessoas saindo e entrando, tudo espalhado. O que fico me perguntando aqui nesse quarto estridente de tanto silêncio, é quando foi que as pessoas sairam, ou melhor, quando esse fluxo se tornou estranho, patético, e quando eu também me tornei assim. Será que adormeci por muito tempo? Quando tudo isso aconteceu que eu nem reparei? E quando apagaram essa maldita luz? Ai! Esbarrei em algo.. Só preciso sair daqui, ou achar esse interruptor.. Por isso o choro espremido.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Manual de Consquista

Olha pra mim, olha bem pra mim. Eu cansei de ler livros de poesia, de auto-ajuda, de escutar música clássica e ver pinturas abstratas. Cansei de entrar nesse perfil bonitinha-intelectual, cansei de todos aqueles manuais. Não quero nem pensar que isso é questão de merecimento. Cansei daquele discurso auto-piedoso, ''nada acontece pra mim''. Concordo como todos que a indiferença nos atrai, nos instiga e nos desafia, concordo, concordo. O que preciso dizer é que eu tô me fodendo pra tudo isso. O simples nunca foi tão sublime. Manter a distância, jogar não sei que jogos, quem conquista quem, nossa.. quanta baboseira nos fizeram escutar! Eu não sei todas essas coisas novas que as pessoas fazem, prefiro ser antiquado. O que acontece é sempre tão mais vivo, me cansa todo o resto. Não venha calculando os passos, que eu não jogo, sou péssima jogadora inclusive, resta-me apenas o xadrez, e muito mal por sinal. Cansei daquela história de ter que esperar em tal lugar até que alguém apareça, tô longe de ser a Cinderela, a começar pelos chinelos de dedo. Então por favor me deixe em paz, deixei de sonhar há tempos e não volto atrás. Não vou salvar ninguém de lugar nenhum, não tenho dotes culinários a oferecer, e meu mau humor é bem contagiante. Por isso só me venha se for assim, desse jeito mesmo, que eu também vou. Senão, por favor, vá pastar e me deixe pastando por aqui, eu gosto de capim. Como dizia um trecho de uma música, ''os opostos se distraem; os dispostos se atraem''. Se bem que eu não sou imã pra ficar atraindo nada, mas que eu tô aqui eu tô!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Carta para um amigo distante

Olá querido amigo distante,
Por aqui tá tudo tão engraçado. Me sinto como um pássaro as vezes, não no sentido de liberdade, ainda não. Mas no sentido de perdido, avoado, trocando os pés, tropeçando na calçada. Sei que não te escrevo há algum tempo, mas é que nossas conversas estavam ficando clichês demais, por isso resolvi dar um tempo, você entende né? As vezes lembro de nossos momentos, desde que éramos crianças, tão livres, tão soltos.. As experiências capilares, as brincadeiras na calçada, os banhos na chuva, os segredos irreveláveis.. Sinto falta do passado, sinto falta desse exato mesmo riso que me recordo agora, e que me traz uma sensação boa no peito. Mas isso não quer dizer que seja disso que eu precise hoje. Estranho né? Mas sei que você poderá me entender.. Já faz alguns anos que não o vejo. Após alguns meses de que não nos víamos eu ficava um tempão tentando decorar seu rosto, ou lembrar de nossos momentos, acho que era medo de te esquecer. Foi inevitável. Confesso, querido amigo, não sei mais os  desenhos do seu rosto com a perfeição de que sabia no passado, quando penso em você é como se viesse uma fotografia embaçada, vêm apenas a sensação, talvez com você seja assim também. Não sei porque mudamos tanto, será que quando te ver serei ainda aquele menino brincalhão? A vida me deixou mais chato, e eu não quero culpar ninguém não, não acho justo, vou dizer apenas que foi a vida, acho que me tornei aquele adulto que temíamos tanto. Eu sei, eu sei, as vezes nem eu acredito direito, que não vejo mais graça no Chaves e que não tenho mais a mesma coragem de antes.. Paciência né? Você também está chato? Dê-me um alívio, não posso sentir todo esse peso sozinho. Se bem que, já era de se esperar né? Acho que deve acontecer com todo mundo.. Nossa viagem pra Argentina de carro nunca se realizou, nós crescemos ao invés disso e não houve tempo suficiente. Tudo compreensível. Ainda tenho aquele caderninho que você fez a capa com vários bilhetinhos.. Queria apenas voltar a falar das coisas importantes entende, como naquele tempo, por isso essa carta inesperada. Espero que não tenha mudado tanto a ponto de não rir comigo ao final desse pequeno momento nostálgico, é que bateu saudade. Um beijo e se cuida.

domingo, 18 de dezembro de 2011

No balanço da rede

Senta e me escuta um pouco


Que eu não quero muito


Nem da fala nem da vida


Nada muito colorido


Senta sem pressa,


em uma cadeira de fio ou em uma rede


Podemos cantar uma música,


contar uma epopeia, ou simplesmente esperar


Mas vejam só que coincidência!


Eu também estava aqui quando o relógio passou,


a ponto de quase não perceber a quantas andavam nossos passos


Como de costume,


sentei na rede e esperei


sentei na rede e dormi


sentei na rede e fiquei


Novamente levo outro susto!


Já não somos os mesmos de quando deitamos ali,


tudo mudava enquanto nos perdíamos no balanço da rede


Esse susto foi um dos grandes, admito


Nem percebi enquanto tudo rodava,


minha pele, meu sorriso, os fiozinhos brancos..


Tudo mudou!


E eu quase não percebi..


Doeu admitir

Morena

Vou balançar o meu vestido
Vou rodar a minha saia
Vou cantar pra ver o mundo rodar
E se cantar, eu vou cantar para que você sorria
E se eu for dançar em outros bailes também não me leve a mal,
eu gosto é dos sorrisos
e das nuances
Se  eu errar o passo, é descompasso, é minha sina
De menina destraída,
torta na dança, torta no ritmo
Fecho os olhos para que a música tome conta de mim
e para que juntos possamos rodar
Rodar na ponta dos pés,
cabelo solto e alma branca,
alma rosa, alma azul, alma verde
Canto para que a vida me escute
e quem sabe aceite o convite para essa dança
Pode confiar que eu seguro nas suas mãos.

Pódio de chegada

Talvez nós nunca chegaremos ao pote de ouro,


e quem sabe a lugar algum

Suspeito que o título de Miss Universo tambem não será meu


Quem sabe eu nunca vá ser Rei, tampouco poeta


Quem sabe eu nunca deixe de sofrer

e de perguntar

Quem sabe, quem sabe, as vezes todo mundo já sabe

Os demônios já tem até um cheiro familiar

Quem sabe o céu não esteja tão distante, ou quem sabe ele nunca existiu

O rendido está aqui

E o maior vencedor também não deve ser menos infeliz, 

já que no pacote que compraram veio tudo junto, 

tudo engomadinho- em um formato de cápsula pra você

MAIOR, MAIS, MAIS, MAIS
(felicidade, inferno, amor..) 

Pronto pra ingerir,

pronto pra vomitar.
''Não tenho mais o que pensar!
Seus olhos são apenas buracos negros
que me vazam e eu não me dizem nada..


Além do meu corpo que muito pesa,
carrego comigo a sensação de estar um tanto só,
pra sempre.


O problema é que eu não consigo me completar em qualquer coisa,
nessas distrações banais.
É preciso ser triste pra ser feliz.
E você podia entender isso da maneira correta.
Não tem nada haver com o bem e o mal.


É só eu, você e esse mundo.
Seu mundo!
Meu mundo!
E não é a mesma coisa..
E você podia entender isso da maneira correta.
Não tem muito a ver com verdade ou mentira.


Somos apenas mais dois,
com feridas abertas que sangram.
E isso não é ser especial..
E você podia entender isso da maneira correta.
Não é caso de ser feliz ou triste.''


Pedro Britto

Aquarela

Não me faça como papel passado, não me faça nada. Não me deixe passar como relógio, nem me castigue como se faz com criança pequena que fez algo de errado. Porque eu não sou diferente, eu também choro. Meu coração é uma bolinha de papel amassado. Pedacinho misturado com folha, pedra, guardado entre rabiscos e gravetos. Se você me deixar assim eu fico, não sou muito desobediente, só amasso mais um pouquinho. Gosto das cores, elas me fazem sorrir. Quando eu puder voar vou levar uma flor pequena que eu deixei guardada em um livro velho para dar de presente às estrelas. Não sou muito bom em jogar coisas fora, sempre acho que posso precisar em algum momento. Sou menino e adoro fazer rabisco, fazer arte. Lá vem a mãe gritando, lá estou eu correndo. Adoro sujar os dedos de brigadeiro, tomar banho de chuva e ficar com a roupa ensopada. Sentir a areia nos pés e fazer guerra de comida. Quando estou triste gosto de ficar um pouquinho só, com a cabeça encostada em um travesseiro e uma coberta bem fofinha. Nessas horas só preciso de alguém que encoste perto. As vezes quando a mamãe vem falar comigo e eu estou triste eu dou uma risadinha amarela e as vezes ela nem percebe. Faço assim com quase todo mundo. Não sei onde foi que aprendi isso, coisas de adulto. Gosto de muitas coisas. Gosto de flor, gosto de estrela, gosto de gatos (cachorros nem tanto), gosto muito de rir também, e de passar a mão em cabelos. Gosto de todas essas coisas, assim como tantas outras que irei gostar, e fico triste quando tentam me fazer escolher. Não gosto também quando as amigas da mamãe ficam falando como sou bonzinho, ou como sou crescido para a minha idade. Eu não sou nada disso. Gosto de ser criança. Deixem-me ser criança. Acho que isso não é pedir demais. Não é bicicleta nova, nem roupa nova como minha irmã pediu. Só quero ser criança. E brincar com as cores, os rabiscos e as estrelas.
O que quero dizer nem sei se posso explicar.. São palavras e palavras para entender.. Quero fazer rima fina, rima solta, rima de quem é feliz, ou que é músico.. Ao mesmo tempo quero continuar sendo assim, esse caramujo fechado, essa pessoinha que corre.. que foge.. que some. Bonito e feliz, duas coisas bem diferentes. Chega, chega, estou com a garganta e com a alma cheia. Chega de tanta profundidade, chega de tanto ser, não me agüento mais.. Deixe-me ir, porque o caminho é vago e nunca se sabe aonde ele pode levar.. Vontade mesmo é a de vomitar os sonhos, eco! Chega de sorrir, chega de esperar. Gritar também não é a solução. Se eu não for não serei eu o pior sonhador. Preciso de tempo, preciso de vida.. Preciso de mim, ou não.. Preciso de nada! Correr tanto assim uma hora me cansa as pernas.. Correndo da vida, correndo do amor... Correndo pras cobertas. Viva vida vida e nada. Se é nada já passou, e em outro instante ninguém sabe o que será. Dizer-te nada, dizer-te muito. Tudo que poderia já foi dito, por isso o nojo às mesmas palavras. Nada de surpreendente, nem aqui nem na vida, muito menos na poesia. Deixo, esqueço, noutrora já me vesti de super-homem, super- vida. Os amigos estão tão longe, e o sorriso também. Ao mesmo tempo tudo ainda é sonho, sonho de amigos, sonho de sorriso. O espaço é bem maior, e a solução é cega. Sorri para lembrar que lembrar não é. Sofri para lembrar que viver não é. Lindo é o sonho, a quase utopia, o quase nada. Tempo, Tempo, Tempo, venha e leve como água,  leve como água.

Desabafo de um homem sem poesia

Cansei dessa tatuagem na minha pele, escrita com faca quente. Cansei de nós, cansei dessa vontade de vomitar. Cansei de não conseguir olhar para as outras pessoas. Cansei de correr, em qualquer uma das duas direções. Cansei de no fim da noite estar tão vazia quanto o copo do início. Cansei de te procurar, já que você também não é a resposta. Cansei de não te ver nas outras pessoas. Cansei de sentir dor, em qualquer uma das duas direções. Cansei de te encontrar no fundo da olheira. Cansei de guardar meu corpo, não por falta de vontade, por falta de força mesmo. Cansei de pedir ao tempo, não foi essa a minha vez. Cansei das palavras ''sempre'', ''nada'' e ''tudo'', e isso tudo sou eu, talvez por isso tão forte você. Porque você veio junto com isso, com a vida, por isso tão forte você. Não que isso seja ruim não, obrigada e obrigada a você, de coração, agora eu tenho cara e alma de gente. Mas o início é seu, e talvez por isso tão forte você. A angústia não, ela já habitava aqui antes, foi a poesia que veio com você, a dor, o lar, e talvez por isso tão forte você. Nenhum vômito tornará possivel, tampouco nenhuma caminhada às estrelas. Porque como eu li um dia e me recordo agora, seus olhos castanhos não me dizem mais nada, mas ainda me são tudo.
Preciso de um lugar, 
preciso de um céu pra chamar de meu, 
preciso de botar as leis do meu
Preciso ser forte, 
preciso agir como gente grande e parar de desenhar rabiscos
Preciso crescer, 
olhar de frente, preciso revestir a alma, ou varrê-la de vez
Preciso aprender a soltar meus abraços, 
a me retirar,
sem aquela cena nostálgica e bonita de filme, 
''o grande fim'',
preciso aprender a apenas ir
Preciso cuidar mais de mim, 
me deixar só, 
mais só?
Nem por você nem por ninguém eu voltaria

Nem por você nem por ninguém eu deixaria tudo pra trás,

e deixaria de me despedir, de esquecer daquele meu velho hábito de me despedir
Vou fazer um desenho.. e pintar de azul
Pintar tudo de azul, o céu, os rostos, a forma
Porque descobri que azul é a cor da paz, ou algo desse tipo
Vou pintar meu corpo, a alma, mergulhar em uma chuva de tintas,
em uma chuva de vidas
Existir dói, viver mais ainda
Tantas coisas no caminho, mas cuidado!
Você pode estar desatento e tropeçar em alguma coisa, enquanto o céu ainda muda de cor.
Nessa floresta de cores translúcidas nada se vê realmente, são muitos olhos e em cada um deles um mundo cheio de si
Vou subir na calda dessa estrela pra chegar ao Sol, pra fechar os olhos e sentir tudo queimar, cada molécula do meu corpo gritando, e a minha alma inteira ali
Quem vai ser o narrador, o pintor desse grande sonho de existir?
Eu decidi: Não quero viver, quero sonhar!
E serei eu a Grande Vilã, 
criarei meu próprio caos e inventarei essa tal de ''felicidade'',
ai de quem me contrariar!
Somente assim o final (in)feliz será meu.

Eu João

Sou eu mais um, no meio de tantos ''uns''

Sou só, sou eu

Tem tanto mundo que me pede pra sair

Mas na verdade a verdade é que eu não penso muito

Quer dizer, penso tanto que perco o sentido, que viro cálculo

Tem tanto mundo que o mundo acaba em mim, 

e permanece por aqui

É inevitável não partir, o espírito não tem paz em si

Tem muito caos, muito grito 

Só resta-me a esperança do sim

Não à Poesia

não ao grito contido que se cala e transforma-se em rima, verso, palavra bonita.
não ao silêncio que fica e que verbaliza, que se protege. 
escrever não é amar. escrever não é viver. escrever é escrever e se muito sofrer. 
sofrer de elite, sofrer burguês, sofrer estético. bonito bonito. 
sei que outrora já disse outra coisa, porém humano posso dizer outra neste momento, não?
poesia já foi bonito, daquele jeito ali, distante e tão íntimo, 
guardado em um belo potinho com éter. palavra fria, emoção morta.
"Exijo respeito, não sou mais um sonhador.''
Chico Buarque de Holanda

Metade

''Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
e que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso
que eu me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também.''



Oswaldo Montenegro
mark leibowitz 14

Por Mark Leibowitz

Da noite

"Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.

Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.

Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível
E o que eu desejo é luz e imaterial.

Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.

Como te amar, sem nunca merecer?"



Hilda Hilst
Deixei tudo tão solto o quanto pude, com displicência, desinteresse
Solto para que voasse, para que não fizesse laço ou nó comigo
Deixei e deixarei, sem explicações ou palavras bonitas.
Que o grande se torne pequeno
e que o que dói se torne motivo do meu riso distraído
Que meus sentimentos mesquinhos e amargos sejam 
substituídos por uma lembrança nostálgica,
e que a realidade seja melhor do que as minhas expectativas.
Que a minha auto-crítica abra espaço para o perdão sobre mim mesma
e que o tempo passe tão rápido quanto um delírio, um desvario
Que eu não perca o presente e toda à vida nele,
esperando o tempo passar.
Vai seguir,

Como tudo que segue

Rio, fluxo, sequência ou recomeço

Vai tomar outra direção,

Vai virar foto guardada, lembrança (in)feliz,

Vai parar de cortar

Vão surgir grãos, de qualquer outra coisa

Nascerá algo!

Há de nascer,

Nem que seja erva daninha
Hoje é o oposto do retrocesso

O ontem pintado de batom em um espelho no banheiro

Veja o mar, vamos dançar, remar, ar, ar

O sol ainda nos dá,

calor

Deixa queimar,

virar pó

E das asas de cera

Derreter, cair no chão

Rastejar

Pra depois andar

Não há ninguém a ser salvo,

fora as cicatrizes

Não há ninguém a ser curado

Só Re-

Inventado
Nascido
Criado

Contínuo,

Vivo.
Se me faltam palavras pra escrever é este mesmo vazio que lhes fala. Seco. Seco. Seco. Coração seco. Tato seco. Garganta seca. Se agora ando por hora nostálgica, alérgica de mim mesma, triste e só, digo para mim mesma que isso não é motivo suficiente para me apaixonar platônicamente, para dar espaço para pessoas que na verdade não quero estar. Saudade de um rosto familiar. Tudo com gosto de cigarro e vômito. Mais ou menos assim, olho insistentemente suas redes sociais todos os dias (t-o-d-o-s o-s d-i -a-s), salvo quando não estou em ócio. Não sei se as outras pessoas iriam entender, já não se trata de amor nem de saudade, e estou sendo honesta, é só vazio. É só a tentativa de despertar alguma emoção, sei lá, pra dar uma tumultuada nesses dias dilacerantes.  Tô com a cabeça na privada, tô pedindo socorro, gorda e triste, típico por sinal.
''..Next time I'll be braver,
I'll be my own savior,
When the thunder calls for me,
Next time I'll be braver,
I'll be my own savior,
Standing on my own two feet..''

Adele-Turning Table
Les Amants_1928

Por Magritte
''Aquela era uma dor velha conhecida minha. Dessas dores que a gente sabe mais ou menos quantos anos têm, do que gostam de se alimentar, o que costumam vestir. Dessas dores quase sem surpresa, a mesma lengalenga, a mesma maneira de incomodar. Era uma dor da qual eu reconhecia o cheiro quando se aproximava, o barulho dos passos, a atmosfera que lhe antecipava a chegada. Uma dor que, frente a frente, olhos no olhos, eu perguntava já sem rodeio: "você, de novo?" De novo. Ainda, de novo. Ainda é um tempo que às vezes parece que não vai passar nunca mais. Tem vez que a gente gosta. Tem vez que não. O que eu não sabia a respeito daquela dor era porque latejava tanto. O que, de fato, abriu a ferida que ela sinalizava existir. Que ferida era aquela que se estendia, em ondas cada vez maiores, para tantas áreas de mim.''

Ana Jácomo
''Se olharmos para alguns lugares da nossa jornada com calma, abertura e olhos de escuta, podemos perceber com alguma nitidez que não é raro chamamos de amor um monte de coisas que não são amor. Às vezes agimos como se soubéssemos o que é bom para o outro baseados somente no que sabemos ou intuímos ser bom para nós. Justificamos fazer isso ou aquilo por amor, mas muitos gestos nossos estão a serviço exclusivamente do nosso egoísmo. Da nossa carência. Do nosso medo. Do nosso apego. Dos nossos territórios machucados. Da nossa estreiteza.

Muitas vezes dizemos amar, mas estamos só desrespeitando. Dizemos amar, mas estamos só impondo. Dizemos amar, mas estamos só olhando para nós mesmos. Dizemos amar, mas estamos só fazendo adoecer as belezas disponíveis. Dizemos amar, mas estamos só amarrando sementes e calando primaveras. Dizemos amar, mas estamos só inflando nuvens que escondem cada vez mais o sol. Dizemos amar, mas estamos só dizendo. Amor tem outro cheiro. Outra natureza. Outra frequência. Outro chamado. É para ser luz pra dois, com todas as sombras de cada um.''

Ana Jácomo
fotografia, pintura, remake

Por Dora Maar
“Cansei de me flagrar em circunstâncias em que eu jurava que havia ocorrido uma falha do cenógrafo na montagem do ambiente: tudo o mais poderia estar no lugar correto, mas não era para eu estar ali. Aí era um tal de listar os supostos culpados, lamentar a má sorte, um blablablá triste toda vida, sob o fundo musical de “Ó, Deus, como sou infeliz”. Muitas cenas depois, porque só o tempo é capaz de nos dar olhos que veem um pouco além das aparências, comecei a encaixar as peças daquelas tais circunstâncias e a perceber que estive exatamente onde eu me coloquei. Nem um centímetro a mais nem a menos. Eram os meus sentimentos, minhas dores pendentes de cura, minha resistência à mudança, minhas crenças equivocadas sobre mim, que me atraíam para aqueles cenários. Peças encaixadas, descobri que, no fim das contas, a roteirista o tempo todo era eu.
Se a história não me agrada, preciso aprender a reescrevê-la até que se torne parecida com a ideia que passa pelo meu coração. O roteiro só muda quando eu assumo a minha responsabilidade por ele e me trabalho para ser capaz de modificá-lo. Não adianta culpar o cenógrafo.”

Ana Jácomo
''Eu mudei muito nos últimos anos, mais até do que já consigo notar, mas ainda não passei a acreditar em acaso.”
Ana Jácomo
''Eu já não tenho mais idade para fazer de conta. Eu não quero fingir.''
Caio F Abreu
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Por Bill Harris
"Me poupe do trabalho de adivinhar seus pensamentos. Diga que me quer apenas quando for verdade. Eu não vou te pedir nada. Não vou te cobrar aquilo que você não pode me dar."


Caio F Abreu
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Por Katzensprung
"Me desculpa pelo péssimo café, pelo meu péssimo hábito de cortar vínculos. Eu sou assim a vida inteira. Me despeço, me despeço.'' 
"Não tenho moral pra falar de amor.''
Caio Augusto Leite
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Por Katzensprung
"Medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que enfrentar: medo da violência, medo da inadimplência, e a não menos temida solidão, que é o que nos faz buscar relacionamentos. Mas absurdo ou não, o medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente sabe por quê''



Martha Medeiros
''Não me agrada viver de suposições.''

Caio Augusto Leite
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Por Michals Joel Grey

“Vê se aprende que amor não se implora.''

Tati Bernardi
"Mas não se preocupe muito comigo, não vale a pena."
Caio Fernando Abreu
"Sabia exatamente o que dizer, mas não disse.''
Caio Augusto Leite
"Tem coisa que eu deixo passar.Não vale a pena.Tem gente que não vale a dor de cabeça.Tem coisa que não vale uma gastrite nervosa.Entende isso?Não vale.Não vale dor alguma, sacrifício algum.''

Cazuza 
"No jogo da sedução só existe uma regra: nunca se apaixone.''

Do filme segundas intenções
mark leibowitz 10

Por Mark Leibowitz

''Nem bonito, nem rico, nem sarado.Eu gosto mesmo é de gente estranha''

Tati Bernardi
''Não estou mais interessado no que sinto.''
Renato Russo 
''Quero que, imediatamente, alguém, assim como você, me venha depressa, como quem não quer nada, como se só me quisesse."


Diego Nunes
''Olha esse sorriso, tão indeciso, tá se exibindo pra solidão.''
Los Hermanos
"Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro.''


Freud 

ickle lardee inhae lee personagem dente leite

Por Mariana Carrilho

“E eu fiquei sem versos, e eu fiquei em vão.”

Chico Buarque
"Sou inquieta, ciumenta, áspera, indecisa, desesperançosa.Embora amor dentro de mim eu tenha.Só que não sei usar amor: Às vezes parecem farpas''
Clarice Lispector
"Eu sabia ser fria como ninguém, mas na hora de sentir me atrapalhava toda.'Eis a garota que não sabe amar', todos diziam.Mas em dia quem é que sabe?falo de amar de verdade, não do gostar que as pessoas confundem o tempo todo.Quem é que sabe amar sem ao menos tropeçar no próprio coração?''

Nicole Cardoso

"Me esforço, me lanço, me queimo no fogo, insisto, resisto, invisto no jogo.Sem cartas na mesa, certeza nenhuma.''

Gabriel Moreno ilustracao

Por Gabriel Moreno
São idealizações, racionalizações quadráticas surgindo
Quero o teu nú, ou mais uma vez quero idealizar-te assim?
Outro sonho, outra forma idealizada de prazer,
só que agora com outras vestes?
Diga-me, pois preciso saber
Preciso poupar-me às palavras
Preciso despir-me dessas idealizações
Sejam elas poéticas ou simples
Não entre no meu jogo,
que enquanto você conversa, entornam-me desvarios
Desse maldito fantasma chamado presença que atormenta-me na madrugada,
quase sempre ocupando o mesmo espaço
Impeça-me!
Seja o oposto dessa bomba idealizada racional que existe em mim
Não posso regredir! Não posso recuar!
Animais selvagens não podem socializar-se
Homicídio assim eu não aceito
O único suicida aqui sou eu,
exijo-me!
''Como as pessoas se sentem é, geralmente, tão importante quanto o que elas fazem.''
Skinner
david lynch

Por David Lynch

“ Ninguém é sensível, ninguém é bruto o tempo todo. Todas as vezes que tentam me colocar num desses estereótipos, eu fico angustiado, sabe? Porque não é verdade. A vida é plural e a gente é feito de vários momentos. A construção da personalidade é feita de vários momentos, dentro de impressões sobre o mundo que você tem a cada momento e antes de qualquer coisa eu tenho muito mais conflito do que certeza. Então, eu não posso me afirmar porra nenhuma… ”

                                                              Marcelo Camelo

Votos de submissão

Caso você queira posso passar seu terno,
aquele que você não usa por estar amarrotado.
Costuro as suas meias para o longo inverno...
Use capa de chuva, não quero ter você molhado.
Se de noite fizer aquele tão esperado frio
poderei cobrir-lhe com meu corpo inteiro.
E verás como a minha pele de algodão macio,
agora quente, será fresca quando for janeiro.
Nos meses de outono eu varro a sua varanda,
para deitarmos debaixo de todos os planetas.
O meu cheiro te acolherá com toques de lavanda
- Em mim há outras mulheres e algumas ninfetas -
Depois plantarei para ti margaridas da primavera
e aí no meu corpo somente você e leves vestidos,
para serem tirados pelo seu total desejo de quimera.
- Os meus desejos, irei ver nos seus olhos refletidos.
- Mas quando for a hora de me calar e ir embora
sei que, sofrendo, deixarei você longe de mim.
Não me envergonharia de pedir ao seu amor esmola,
mas não quero que o meu verão resseque o seu jardim.

(Nem vou deixar - mesmo querendo - nenhuma fotografia.
Só o frio, os planetas, as ninfetas e toda a minha poesia.)


(Fernanda Young- Do livro Dores do Amor Romântico - da Ediouro)
''Ele fixaria em Deus aquele olhar verde-esmeralda com uma
leve poeira de ouro no fundo. E não obedeceria porque gato
não obedece. Quando a ordem coincide com sua vontade,
ele atende mas sem a humildade do cachorro, o gato não é
humilde, ele traz viva a memória da liberdade sem coleira.
Despreza o poder porque despreza a servidão. Nem servo
de Deus. Nem servo do Diabo.

Lembro agora daquela história que ouvi na infância e
acreditei porque na infância a gente só acredita. Mais tarde, conhecendo 
melhor o gato é que descobri que jamais ele teria esse comportamento, 
questão de caráter. Dizia a história que Deus pediu água ao cachorro que lavou lindamente o copo e com sorrisos foi levá-lo ao Senhor. Pedido igual foi
feito ao gato e o que ele fez? Escolheu um copo todo rachado,
fez pipi dentro e dando gargalhadas entregou o copo na mão
divina. Conheço bem o gato e sei que ele jamais se comportaria conforme aquela antiga história. 

O cachorro, sim, bem-humorado faria tudo o que fez ao passo que o gato ouviria
a ordem divina mas continuaria calmamente deitado na sua almofada, apenas olhando. Quando se cansasse de olhar, recolheria as patas no calor do peito assim como o chinês
antigo recolhia as mãos nas mangas do quimono. Elegante. Calmo. E mergulharia no sono sem sonhos, gato sonha menos do que o cachorro que até dormindo parece mais com
o homem. Outro ponto discutível: dando gargalhadas? Mas gato não dá gargalhadas, é o cachorro que ri abanando o rabo naquele jeito natural de manifestar alegria. 

Os meus cachorros — e tive tantos — chegavam mesmo a rolar de rir,
a boca arreganhada até o último dente. O gato apenas sorri
no ligeiro movimento de baixar as orelhas e apertar um pouco
os olhos como se os ferisse a luz, esse o sorriso do gato. Secreto.
E distante. Nem melhor nem pior do que o cachorro mas diferente. 
Fingido? Não, porque ele nem se dá ao trabalho de fingir. 

Preguiçoso, isso sim. Caviloso. Essa palavra
saiu de moda mas deveria voltar porque não existe defini-
ção melhor para um felino. E para certas pessoas que falam
pouco e olham muito. Cavilosidade sugere cuidado, afinal,
cave é aquele recôncavo onde o vinho fica envelhecendo em
silêncio, no escuro. Na cave o gato se esconde solitário, 
porque sabe do perigo das aproximações. Mas o cachorro, esse
se revela e se expõe com inocência, Aqui estou!''

Lygia Fagundes Telles

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Carta para um familiar desconhecido

Olhe bem,
Esse escuro te fez alguém
e quero que você se acalme
e deixe o tempo bater na sua força devida
e levar o sujo,
e te limpar pra que você possa enxergar de novo
Acalma esse teu coração e entenda,
não há lágrima que caia nesse deserto seco de almas 
e fique assim por lá
Deita no meu colo se quiser,
e deixe que o tempo abrande as feridas
e cuide de todo o resto
Ao contrário dos poetas e ideológicos
não ame o romance
Abra os olhos menina!
Cuide do que existe,
do que é simples e real
Te encontro lá.
Quem sabe um dia a borboleta suave volte
Quem sabe um dia a fé volte (será que volta?)
Me dá teu colo de novo, teu abraço de novo
Devolve a paz pro lugar que ela deveria estar
Mas será que ela vai existir?
Você é menino


Quem nos dará salvação?
Vai haver salvação pra nós? 
Ou eu devo continuar decorando as lições pra te esquecer
Já que não sei mais te amar
Já vem tanto tumulto nas memórias
Só sei do amor
Em algum canto recluso


Silencioso agora, quietinho
Não quer mais incomodar, tá se fazendo de morto
Será?
Com canivete, faca e unha nos ferimos
Mas você não estava pronto
E quem disse que estarás agora?
E quem serei eu agora?
Já não espero nada de ti, e confesso que me sinto bem, mais limpa entende?


Será que ainda seremos os nossos sonhos? (sonhos e sonhos)
Casar.. Nossa casa.. Nosso caso
(Casa comigo por favor)
Que paz seria você aqui comigo
Ou não.. devo entender de vez que você nunca ficará pronto
Que não quer, que não pode, que o que merecemos não é viável, já que nos exige muito
Que minhas expectativas são altas demais, que deveríamos reinventar essa história
Que só estamos brigando com a ausência da presença
Que há de passar.. que vai passar!


Será que não nos idealizamos e devemos acordar desse sonho?
Quem nos permitiu ao sonho?
Quem sabe eu não seja mais teu objeto idealizado?
Sabes que mudei, que virei humana?
Mundana, real e sem fé como todos os outros?
Ainda sim me amarias?
Nem penso, nem penso!


Me libertei da mágoa que podes me causar, o preço pode ter sido alto
Frustrações, promessas, choros
Quem seremos nós então?
Não foi culpa nossa, não foi culpa de ninguem
Das expectativas, da ilusão de ser dono, de que pudéssemos mudar em nome de algo
Perdoe-me por tudo isso
Acho que foi um desvario, um engano assim


Há tanto o que agradecer
Me perdoe junto com tantas justificativas e 
palavras bonitas por te decepcionar, 
e causar sua fúria em um futuro possível, não me entenda mal, 
nem me veja mal se puder (mas se ver, entenderei),
só estou tentando sobreviver


Não me restou outra alternativa, a não ser homem-animal
Imagina se tudo pudesse ser mudado e se você pudesse aparecer e ficar
E fazer nossos sonhos sentidos?
Mas não vai


E antes que a angústia me atormente outra vez deixarei passar, 

o tempo bater na pedra outra vez
mas tentarei continuar imóvel, como na lição decorada
Teremos nós outra saída? Diga-me se conseguir pensar!
Saídas reais, carnais, cabíveis ao nosso ser
Te amo, te amo, te amo, te amo, te amo
Deixarei contigo o meu melhor e o meu quem sabe
E quem ditará nosso final?
Quem sabe

(nós sabemos)