domingo, 18 de dezembro de 2011
Aquarela
Não me faça como papel passado, não me faça nada. Não me deixe passar como relógio, nem me castigue como se faz com criança pequena que fez algo de errado. Porque eu não sou diferente, eu também choro. Meu coração é uma bolinha de papel amassado. Pedacinho misturado com folha, pedra, guardado entre rabiscos e gravetos. Se você me deixar assim eu fico, não sou muito desobediente, só amasso mais um pouquinho. Gosto das cores, elas me fazem sorrir. Quando eu puder voar vou levar uma flor pequena que eu deixei guardada em um livro velho para dar de presente às estrelas. Não sou muito bom em jogar coisas fora, sempre acho que posso precisar em algum momento. Sou menino e adoro fazer rabisco, fazer arte. Lá vem a mãe gritando, lá estou eu correndo. Adoro sujar os dedos de brigadeiro, tomar banho de chuva e ficar com a roupa ensopada. Sentir a areia nos pés e fazer guerra de comida. Quando estou triste gosto de ficar um pouquinho só, com a cabeça encostada em um travesseiro e uma coberta bem fofinha. Nessas horas só preciso de alguém que encoste perto. As vezes quando a mamãe vem falar comigo e eu estou triste eu dou uma risadinha amarela e as vezes ela nem percebe. Faço assim com quase todo mundo. Não sei onde foi que aprendi isso, coisas de adulto. Gosto de muitas coisas. Gosto de flor, gosto de estrela, gosto de gatos (cachorros nem tanto), gosto muito de rir também, e de passar a mão em cabelos. Gosto de todas essas coisas, assim como tantas outras que irei gostar, e fico triste quando tentam me fazer escolher. Não gosto também quando as amigas da mamãe ficam falando como sou bonzinho, ou como sou crescido para a minha idade. Eu não sou nada disso. Gosto de ser criança. Deixem-me ser criança. Acho que isso não é pedir demais. Não é bicicleta nova, nem roupa nova como minha irmã pediu. Só quero ser criança. E brincar com as cores, os rabiscos e as estrelas.
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