domingo, 16 de dezembro de 2012
Eu João
Eu não sou ninguém. Acordo quando ainda está escuro, visto rápido alguma roupa e sigo para não me atrasar. Como qualquer coisa e tomo um café doce para conseguir me manter acordado. Fumo um cigarro e na minha cabeça não paira nada, a não ser quanto tempo ainda demora. Como qualquer coisa que poderia ser chamada de almoço e se puder ainda durmo um pouco. Acordo sem pensar em nada e continuo a fazer o que tenho que fazer. Ligo qualquer coisa na tv e fumo mais outros cigarros só para ter a certeza de que não estou só. Durmo tarde. Penso em dinheiro. Penso em comida. Penso em dormir. Só tenho meus vícios ao final de um dia cansado. Eu falo como todo mundo, ando como todo mundo, você nem me repararia em uma multidão. Balanço a cabeça e consinto, nem tenho argumentos para discutir. Não tenho tempo para ler aqueles livros de poesia, e a música que escuto é a que toca no rádio. Eu não sou de se impressionar. Eu não tenho nome, não tenho cara. Sou só gente, e prefiro assim. Tenho medo de que o ônibus não chegue a tempo e que a semana não acabe de uma vez. Pra dormir tarde de novo. E acordar com sono. E sair correndo. E comer qualquer coisa. E não pensar em nada. Eu sou como todo mundo e todo mundo também é um pedaço de mim.
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Com o rio
Aprenda com o rio,
o observe..
Permaneça mais tempo imerso n'água
Feche os olhos e sinta todas as sensações que ele pode te oferecer..
Somos meros mortais e o rio da vida é tudo!
A água é tão simples, tão forte..
Respeite o seu curso oras, ele não existe por existir..
Se misture com o vento, a água, o sol..
Se torne parte dele também
O rio anda sempre pra frente!
E é sempre tão natural..
Todo mundo sabe que é burrice ir contra a correnteza!
Fale menos, lute menos, se leixe levar mais..
Respeite o rio!
Faça-o seu melhor amigo..
Continue exatamente onde está,
o rio cuidará de todo o resto..
o observe..
Permaneça mais tempo imerso n'água
Feche os olhos e sinta todas as sensações que ele pode te oferecer..
Somos meros mortais e o rio da vida é tudo!
A água é tão simples, tão forte..
Respeite o seu curso oras, ele não existe por existir..
Se misture com o vento, a água, o sol..
Se torne parte dele também
O rio anda sempre pra frente!
E é sempre tão natural..
Todo mundo sabe que é burrice ir contra a correnteza!
Fale menos, lute menos, se leixe levar mais..
Respeite o rio!
Faça-o seu melhor amigo..
Continue exatamente onde está,
o rio cuidará de todo o resto..
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
terça-feira, 27 de novembro de 2012
O seu amor
"Ame-o e deixe-o livre para amar
Livre para amar
Livre para amar
O seu amor
Ame-o e deixe-o ir aonde quiser
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
O seu amor
Ame-o e deixe-o brincar
Ame-o e deixe-o correr
Ame-o e deixe-o cansar
Ame-o e deixe-o dormir em paz
O seu amor
Ame-o e deixe-o ser o que ele é
Ser o que ele é"
Reflexo
Retrato,
cores vibrantes, expressões fortes..
Eu sou seu retrato!
Sou aquele que você guardou, deixou empoeirar..
Sou todas as suas saudades, todas as pessoas que você foi antes disso..
Sou aquela emoção estática que não te desperta mais nada..
Sou antigo, sou outra pessoa, sou obsoleto demais para você..
Sou aquela moldura rústica de madeira, moldura de plástico colorida..
Não tenho molduras, eu sou tão cru..
Sou todos os erros que você sabe que cometeu,
as cicatrizes expostas que você vê todos os dias,
todos os sonhos que não são mais seus..
Ao procurar a foto daquele momento alegre você não a encontra mais..
Sou eu também quem você deixou em algum canto esquecido.
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Saudade
Saudade.:
(latim solitas, -atis, solidão)
s. f.
1. Lembrança grata de pessoa ausente ou de alguma coisa de que alguém se vê privado.
2. Pesar, mágoa que essa privação causa.
3. [Botânica] Planta dipsacácea. = SUSPIRO
4. [Botânica] Nome de várias espécies de plantas com flores de cores variadas.
Saudades.:
s. f. pl.
5. Boas lembranças ou recordações
6. Cumprimentos a alguém
Bom, aqui vai a minha.: Saudade é estado, sensação, momento.. é perder, parar no tempo, ser responsável, sorrir, chorar. Saudade existe nas distâncias geográficas e emocionais. Saudade é morrer de pressa pra depois ter um suspiro de paciência.. É injusto, é doloroso.. Mas também pode ser bom. Saudade é como uma aquarela.. É a própria aquarela que pintam em nós. Ter saudade é como tentar insistentemente juntar os fiapos que descosturaram.. E jurar que o remendo é tão bom quanto o tecido inicial. Saudade é uma luta perdida, uma causa sem ganhadores. É meio que como ter uma tristeza que brilha por ser só sua, ter uma casa que a gente jura que ainda é nossa. Saudade é um lugar melhor que o nosso, uma lembrança mais doce, uma época mais alegre.. E jurar que realmente era assim.. É repetir aquele bom clichê "Naquele tempo", e encher o peito quando o fizer. É querer ter tudo de novo, pelo menos por um momento.. Querer o tempo, as pessoas, os momentos.. E talvez exatamente porque nada possa se repetir que a saudade se torna tão mais bela. Saudade é um porto, um braço que abraça, um barco em temporal, uma lembrança que implora pra não perder a imagem.. Imagem essa que aos poucos vai sumindo, se diluindo com o resto do mundo, e é inútil tentar remontá-la mentalmente. Pra mim significa bater o pé e dizer, eu não aceito que você se vá assim, que você vire fumaça do trânsito, programa de tv chato, que você se transforme em tanta coisa que passa e a gente nem vê. Ter saudade é crescer.. mesmo que na marra. É entender que o tempo não congela e que meu relógio não volta em sentido anti-horário. E que o objeto da minha saudade não é mais o mesmo que conheço agora. Tenho uma certa melancolia ao sentir saudades, mas ainda feliz ao lembrar que em algum canto do mundo estão as pessoas que me fazem rir agora. Saudade é bom porque é saudade. E sinto saudades das pessoas que amo agora.
domingo, 28 de outubro de 2012
Oração
Que o que me foi tomado não se transforme em mesquinhez
Que as minhas experiências não se transformem em via de regra
Que o que dá certo pra mim não se transforme em imposição
Que eu respeite o que não é igual a mim
Que o que me faz feliz não se transforme em vaidade
Que a minha solidão não se transforme em rigidez
Que o que me machucou não se transforme no "direito" de fazer o mesmo
Que as minhas limitações não se transformem em inferioridade
Que as palavras infinitas não se transformem na inabilidade para escutar, e silenciar..
Que as minhas decepções não se transformem em desconfiança
Que os meus medos não sejam maiores do que eu
Que o desejo de ser o melhor não se confunda com dar o meu melhor
Que a ciência não me torne cética quanto ao que desconheço
Que a banalidade das coisas ruins não se transformem em indiferença
Que eu não seja fria diante do sentimento alheio e dos meus próprios sentimentos
Que eu não me acomode a posição de "vítima", e tenha vantagem com ela
Que o ideal de perfeição não transforme a minha caminhada em inalcançável
Que a opinião alheia não se transforme em um coronel que ronda minha casa..
E que nunca dorme.. Que esse homem não seja maior que o meu desejo de tentar
Que eu não perca a capacidade de amar, tentar, chorar, olhar pro lado, pra cima, pra baixo..
Que eu não perca a capacidade de perder.. E ter a humildade que só a perda pode ensinar
Que eu não me transforme em uma pessoa amarga, fria, solitária, insegura, desconfiada e medrosa..
Que eu não esqueça das coisas simples
Que eu não perca a fé em viver
Que eu esqueça mais, sofra menos, chore mais, que aprenda menos com as minhas experiências, menos ainda com as dos outros, tente mais, espere menos..
Que eu tente, pelo menos as vezes, lembrar como é lindo e devastador a experiência de Ser Humano
Amém
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
"..Meu ser amado poderia ser um quadro no qual minha perfeição fosse retratada em toda a sua
magnificência e esplendor — mas será que as nódoas e manchas também não apareceriam? Para limpá-las
— ou escondê-las, caso sejam pegajosas demais para serem apagadas —, é necessário lavar e preparar a
tela antes de se iniciar o trabalho de pintura. E depois observar cuidadosamente para garantir que traços
das antigas imperfeições não venham a surgir de seu esconderijo debaixo de sucessivas camadas de tinta.
Cada momento de sossego é prematuro — restaurar e pintar de novo, sem folgas...
Esse esforço incessante é também um trabalho de amor. O amor explode de energia criativa, que
inúmeras vezes é liberada numa explosão ou fluxo contínuo de destruição.
Nesse processo, o ser amado transformou-se numa tela — em branco, de preferência. Suas cores
naturais empalideceram, de modo a não se chocar com a figura do pintor, nem desfigurá-la. O pintor não
precisa indagar da tela como esta se sente, lá embaixo, sob toda aquela tinta. As telas de lona ou de linho
não apresentam relatórios voluntariamente — embora as telas humanas por vezes o façam.."
Amor Líquido- Zygmunt Baumansábado, 6 de outubro de 2012
Dessas utopias
As vezes não se deve tentar alcançar as estrelas. Até olhá-las demais em alguns momentos nos faz lembrar o quão impotentes somos.
Não por ser "fraco" ou por ter pouca determinação, é o contrário disso.
Imagine só as peripécias para se chegar até lá, e se chegar..
Trampolim gigante, escada com foguete..
Podem se passar dias, meses e até anos para articular uma bendita estratégia,
segurar a estrela dura um só instante.
Não podendo essa ser retirada do céu, logo se torna eternamente inalcançável..
E eu tão persistente.
Nesse caminho, o trajeto torna-se mais importante que o "troféu" em si, a estrela,
e se é troféu é objeto, que logo ocupará o espaço de um armário velho.
Não permita que esses alquimistas malucos te façam se sentir menor por não almejar escaladas impossíveis,
recolha a flor mais simples do seu jardim e sinta-se honrado por isso.
Nossos braços devem ir até onde eles podem alcançar,
e nossos passos não devem ser maiores do que a distância entre nossos pés.
Isso sim é bonito.. Isso sim deve ser feito..
Essa é a minha estrela de concreto!
E é o que tenho aprendido sobre essa tal de felicidade..
terça-feira, 25 de setembro de 2012
Contrato social
não encosta em mim, dá pra não respirar tanto por favor?
Fale mais baixo, não ria desse jeito,
a forma como você olha é muito inconveniente.
Com toda a educação e gentileza que cabe a mim,
fique bem quietinho, e deixe as coisas como elas estão mesmo,
pare de buscar a desordem oras..
Quanto menos eu enxergar de você mais ficarei contente,
e sei que você tem potencial pra isso.
Obrigada,
Sociedade.
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Uma flor para o meu lar..
Hoje comprei uma flor. Confesso minha ignorância ao desconhecer espécies, tipos.. Nada, nada disso. Me deixei levar. Escolhi a que me encantou e fim. Em tons de rosa e branco.. Trouxe ela na mão no caminho até em casa, e logo que cheguei peguei uma vasilha (talvez provisória, talvez não) e coloquei sobre seu fundo, mas devo lembrar de limpá-la as vezes para não acumular água parada. Então a coloquei em meu quarto. Em um canto que desse sol mas nem tanto. Que a noite vente mas nem tanto. Nada pode ser exagerado. Com toda minha falta de jeito e conhecimento enchi logo um copinho de água e derramei sobre aquela terra escura. Amanhã espero fazer a mesma coisa. E assim tentarei depois de amanhã, depois e depois. Um pouco de água, um pouco de sol, um pouco de sombra.. Não deve ser tão difícil. Alguns dias estarei com tanto sono que não a olharei, tampouco abrirei a janela da sacada para que ela receba um pouco de luz. Noutros, estarei com tanta pressa que esbarrarei em algumas pétalas, que inevitavelmente cairão.. Devo ir aceitando a idéia de que elas não durarão por muito tempo mesmo, ainda mais essas que estão apenas em um pequeno vasinho.. Nem poderiam. Mas eu posso tentar que durem o máximo.. E aceitar a natureza das flores, que redundantemente é tão natural. Aceitar quando estiver murcha e seca, e não me culpar de ser uma péssima dona de flor. Uma flor. São as estações. E não devo jogá-la fora só por isso... Devo ser paciente também. E não esquecer dos seus cuidados necessários. E em um dia qualquer, um pequeno botão pode brotar, e outra flor desabrochar.. Sabe-se lá por quanto tempo. Ela também pode morrer. Poderá ter sido por desleixo meu, e as flores são muito simples quando respondem assim. Mas simplesmente poderá ter sido porque não há espaço suficiente para suas raízes, e elas podem estar precisando de um novo espaço (e maior) para crescer. Ou tenham simplesmente murchado de vez, flores de supermercado têm tempo de duração definido, uma beleza até meio fulgaz. Poderei eu então, cansada desses ciclos decidir abandonar a carreira precore de admiradora de flores.. Muito cuidado, muita fragilidade, pouco tempo de vida. E se exigem tanto, o que posso eu receber com isso? Ainda sim, noutro dia qualquer passando pela rua posso me aventurar novamente, olhar, me perder nas cores e formas, escolher a que mais me agrada, talvez duas, por quê não? E tentar tratá-las com mais carinho dessa vez, talvez ler algo sobre, procurar algumas dicas.. Ufa, como é infinito o universo das flores! E eu ainda tenho muito a aprender com elas..
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
TEMPO
Por Salvador Dalí
É por acaso mesmo esse Rei que ouço falar?
Quem sabe o próprio belzebu
Quem sabe é sábio é deus
Quem sabe sejam só ponteiros e nada mais
Você é torto
Na verdade você não existe
_
É só loucura da minha cabeça
Você não significa nada
Você chega a corroer
Você me transforma
Você me reduz
Logo não sou mais nada
O que achei que tinha você levou
O que quase alcancei você distanciou
E sua única resposta é para eu ter mais p a c i ê n c i a
Mas eu não entendo nada disso
Você demora e voa
Tudo isso num mesmo instante
E eu te espero
Me arrumo
Arrumo a casa
Enfeito a alma
Logo você se vai.
E eu permaneço na antiga casa que você me deu
Percorrendo os caminhos da memória que você devastou, as faces que apagou..
E que bem deu o tom que quis
E acredita que as pessoas dizem que ainda há muito de você?
Mas ninguém quer esperar eu descobrir
Eles só me mandam correr
Dizem que você é fixo, rígido, como um pai conservador
Mas onde está você que nunca se apresentou?!
Será que poderíamos nos conhecer pessoalmente?
Quem sabe uma xícara de chá
(pressuponho que não aprecie bebidas alcoólicas)..
Tem rugas na cara? Gosta de ir à festas assim como eu?
Mas também sei que é fútil, pois não sei quantas vezes já te perdi por aí..
Andaram falando também que você é moeda de troca,
mas não sei bem se quero acreditar nisso
osrevni ohnimac on odni uotse euq ies óS
Caminhando até que você
p
a
r
e de vez
E eu pare de correr, de esperar
SÓ PARE.
Você tem me conduzido ao longo dos anos
Perturbado, Suave, Tímido
Me deixou algumas cicatrizes também
Mas és tudo que tenho, diriam os otimistas
Dizem até que seremos amigos daqui há alguns anos
Quem sabe eu espere pra ver (ou seria tarde demais?!)
Dizem que você ensina tudo
Mas por quê é que então as vezes sinto como se não soubesse de nada?
E não pudesse esperar tanto?
Você existe em tudo
E ainda sim não sei nem mesmo quem é você.
PS.: ALGUM TEMPO SE PASSAVA ENQUANTO EU ESCREVIA ESSE TEXTO
terça-feira, 7 de agosto de 2012
São Paulo, 21 de Julho de 2000.
Querido Antônio,
Sim, perdoe-me as formalidades, perdoe-me o "querido" logo no início do que lhe escrevo. Mas é que.. tenho saudades, e carinho por ti também. Pode ser esse carinho formal se assim preferir. Tenho visto tuas fotos, tenho visto que andas rindo.. Por falta de mediação melhor vou escrever logo sobre o que me vêm à mente. Você era tão.. tão.. como eu poderia dizer, puxa! Você era um desses rapazes cultos, você era sonhador sabe.. E não me entenda mal quando te "defino" assim, não que você não gostasse de euforia, de rir por rir, desses prazeres baratos mesmo que a gente tem e precisa, mas você era tudo isso junto, e entendia a medida necessária de cada coisa para sobreviver. Você conhecia aquelas mocinhas e logo ia perguntando: "Qual seu filme predileto", "E o seu autor?", "Quer uns livros emprestados?", era até divertido de se ver. Você quase que se desesperava pra buscar aquilo que faltava, tentava e tentava até não dar mais. Perguntava se elas estavam bem, ou falava qualquer frase para ver se despertava qualquer assunto filosófico, e como você gostava de falar desses assuntos.. Todo calmo, dava um longo suspiro, e depois de gaguejar um pouco ia dizendo "Eu.. acho que..", e todo sensato ia falando sobre nossas enfermidades por viver nesse mundo. O que eu mais gostava, era a sua habilidade de se colocar também dentro de tudo, você sabia reconhecer que você também fazia parte daquilo, e sempre deixava em aberto. Recordo o quanto sentia-se mal por ficar forçando aqueles assuntos, aquela coisa de "nós somos únicos no planeta". Sentia-se culpado, quando denominava as pessoas entre "vazias", "cheias", e que definitivamente o problema era você. E como o resto do mundo faz deus?? Você se perguntava.. E voltava mais uma vez pra casa meio frustrado, achando que amanhã você poderia se distrair. Mas também você não era denso, daquelas pessoas que deixam o clima pesado sempre. Não.. você era leve, inteiro, e sabia dar a cada momento o que ele pedia. Na maioria das vezes você afligia-se sozinho, e mais uma vez sozinho carregava e disfarçava suas frustrações. Na verdade a maioria das pessoas achava que você nem sofria desse tipo de coisa, imagine só o que iriam dizer.. Não que você quisesse uma empatia intelectual, existencialista, romântica e blá blá blá.. Você só queria que tivesse um pouco de tudo. Nesses últimos dias percebo que anda cansado, confuso. Acho que se convenceu de vez que tudo isso é utopia, e que.. As pessoas devem aprender a observar outras coisas, e deixar outras surgirem. Começou a ler uns textos que diziam que a empatia corporal é tudo, e que as pessoas não devem ficar se torturando em debates filosóficos internos infinitos. E você pegou isso mesmo pra si. Eu entendo o seu cansaço querido.. Porque você percebeu o quão frustrante era ficar forçando essas situações, buscando algo que nem você sabia direito o que era. Então você foi tentando não pensar tanto nessas coisas, e deixando de ser tão cruel consigo mesmo e com os outros. Aposto que nunca mais mostrou pra nenhuma ficante aquele seu blog de poesia. Que culpa aquelas moças tinham de não se sentirem tristes ou vazias, e veja bem, não confunda as qualificações.. Elas eram educadas, inteligentes, gentis. Só não.. só não.. tinham algo como diz você. Quem sabe nesse universo cheio de possibilidades, eu possa Existir(em letra maiúscula mesmo) em uma nova configuração, repetia você. Sempre tão otimista. Confesso que te escrevendo tudo isso já não sei mais se estou falando de ti ou de mim.. Mas esse deve ser o caminho certo, correto? Novamente não sei mais como terminar esse texto, já que me vi também ao te escrever essa carta. Mas enfim, como o curioso que és sei que está aceitando bem esse encargo, e se divertindo com tudo isso. Ora, vamos ser positivos, essa nova perspectiva será alegre, com vida, e não menos humana por isso. Está só remoendo um antigo hábito cultivado com tanto zelo, logo não irá incomodar.. Você é como todos agora!
Um abraço e um beijo,
De uma velha conhecida.
sábado, 4 de agosto de 2012
Qualquer desabafo pra você
Perdi, dessa vez eu tô fora. Perdi alguém que compartilhava do meu gosto estranho por programas culinários, das músicas de pagodes, das músicas bregas. Pra tentar ser honesta resolvi começar assim, por um texto honesto. Sem muitas figuras de linguagem, ou qualquer eu-lírico que não seja eu mesma, vou deixar à margem inclusive qualquer erro de concordância. Quantas vezes no planeta você conhece uma pessoa assim, que entende que ser mundano é bom, mas nem tanto; que ser triste é vital, mas que uma piada sem graça também pode mudar tudo; que gosta de arte, de poesia, até da sua ironia.. Em que nossos hábitos se tornaram apenas.. nossos hábitos.. Ver um filme, pausa pra água, volta ao filme, pausa pro cigarro, pausa pra rir, pausa pro sexo, hora de comer e depois dormir (ou o contrário).. Imagina o que é fazer sexo com o seu melhor amigo? Eu pude imaginar como é isso. E a gente tinha chegado no status de ''paz", sabe como é? Quando se está com uma pessoa sem a menor preocupação de silêncio incômodo ou qualquer coisa do tipo, parecido como quando se está com familiares só que melhor. E você entendia tudo isso da maneira certa. Putz.. pensa que não sei que posso ter perdido esse tal de "grande amor"? Uma pessoa que eu até aguentaria por muitos e muitos anos, só pelo fato de estar tranquila do lado? É, eu sei.. Nem precisa ficar botando músicas sertanejas pra dizer que tá bem.. Pensa que não me arrependo tremendamente por ter sido tão frágil à ouvidos alheios? Que porra nenhuma sabiam do que se passava por aqui.. Mas a intenção não é provocar nada, mesmo. Até porque acho que as coisas estão onde elas deveriam estar agora. Tinha supervalorização demais por todos os cantos, cantos que nós nem tivemos tempo de partilhar direito.. Tem mentira, traição, e muita mágoa, dos dois lados eu quero dizer. A distância nos privou do fato em si, e deixou apenas essa paz incompensável que a gente tinha. Acho que adoecemos demais com isso também. Pensei um milhão de vezes em te procurar, ao invés de ser covarde e escrever sobre isso depois, pra te pedir desculpas por não ser a pessoa que você merecia. Mas não consegui.. Por todo esse tempo eu tentei te reproduzir em qualquer pessoa, se não era igual a você não servia, e doeu demais descobrir que não era. Descobri que eu precisava mesmo era de um tempo só, de alguém que não fosse uma tentativa minha da sua projeção.. E por mais que me passem pensamentos como, "não, não tem nada haver, é tosco, é absurdo.." é diferente de você. Engraçado porque, isso agora me soa bem entende? Com o resto do mundo não é assim? Quem sabe eu possa criar um novo hábito ou aprenda a gostar de qualquer outro gênero musical.. quem sabe, quem sabe.. Pessoas reais, com expectativas e defeitos reais, nem todas as afinidades do mundo, mas.. Sim, sim, eu perdi demais ao perder você, talvez uma perda irreparável, muito do que eu sou é seu e você sabe disso.. Mas olha, o que a gente pode ganhar a partir daqui quem vai saber? Há sempre mil coisas para amar, gostar, desejar.. E outras mil para aprender.. É estranho ser livre agora.. E nada, nada do que vivemos está perdido, nem o amor. Um sentimento nunca é o mesmo, assim como as estrelas.. Começo a pensar agora que a vida sempre pode reinventar novos caminhos, e não vou dizer que não estou gostando de tentar.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
''Não tenho mais o que pensar!
Seus olhos são apenas buracos negros
que me vazam e eu não me dizem nada..
Além do meu corpo que muito pesa,
carrego comigo a sensação de estar um tanto só,
pra sempre.
O problema é que eu não consigo me completar em qualquer coisa,
nessas distrações banais.
É preciso ser triste pra ser feliz.
E você podia entender isso da maneira correta.
Não tem nada haver com o bem e o mal.
É só eu, você e esse mundo.
Seu mundo!
Meu mundo!
E não é a mesma coisa..
E você podia entender isso da maneira correta.
Não tem muito a ver com verdade ou mentira.
Somos apenas mais dois,
com feridas abertas que sangram.
E isso não é ser especial..
E você podia entender isso da maneira correta.
Não é caso de ser feliz ou triste.''
Pedro Britto
Seus olhos são apenas buracos negros
que me vazam e eu não me dizem nada..
Além do meu corpo que muito pesa,
carrego comigo a sensação de estar um tanto só,
pra sempre.
O problema é que eu não consigo me completar em qualquer coisa,
nessas distrações banais.
É preciso ser triste pra ser feliz.
E você podia entender isso da maneira correta.
Não tem nada haver com o bem e o mal.
É só eu, você e esse mundo.
Seu mundo!
Meu mundo!
E não é a mesma coisa..
E você podia entender isso da maneira correta.
Não tem muito a ver com verdade ou mentira.
Somos apenas mais dois,
com feridas abertas que sangram.
E isso não é ser especial..
E você podia entender isso da maneira correta.
Não é caso de ser feliz ou triste.''
Pedro Britto
terça-feira, 24 de julho de 2012
"Eu tinha um monte de coisas pra te falar sobre a solidão. Ia te dizer que ela pode ser uma escolha e que a gente se esconde por trás dela por medo de se machucar. E nos escondemos tanto que desaparecemos feito aquele abajur velho que fica ali a vida inteira e que acendemos uma vez por ano. Aí ia te dizer, com um sorriso amarelo, que a gente vira um camaleão que onde quer que vá se confunde com o ambiente, se confunde com a cadeira, com a mesa, com a bebida, e que esses bares serão comuns. Nos tornando ninguém todo mundo também deixa de existir, porque alguém disse que só existimos em relação ao outro. Transformamos todo mundo em ninguém, e eu que te procurei pra te dizer tudo isso já não existo mais."
Pedro Britto
ps.: as vezes vc me deixa sem palavras, como nesse texto.. =)
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Qualquer rascunho de papel amassado..
Sobrevivemos de ausências
Formatamos palavras com excelência
Vestimos roupas para dizer do tal que somos..
E eu preciso tanto dessas reticências
E esses teus homens nunca saberão
E ninguém nunca conseguirá falar,
tudo o que realmente precisa dizer
Mas me diga de uma vez então,
pois eu já percebi tudo:
O que você ama mesmo é o que lhe falta
De nada adianta continuar tentando ter a vida nas mãos..
Formatamos palavras com excelência
Vestimos roupas para dizer do tal que somos..
E eu preciso tanto dessas reticências
E esses teus homens nunca saberão
E ninguém nunca conseguirá falar,
tudo o que realmente precisa dizer
Mas me diga de uma vez então,
pois eu já percebi tudo:
O que você ama mesmo é o que lhe falta
De nada adianta continuar tentando ter a vida nas mãos..
sexta-feira, 6 de julho de 2012
Já posso ser covarde?
Posso encher a cara e a alma? (por favor por favor)
Meus olhos estão um pouco fundos nesse momento pra servirem de espelho
Minha alma está um pouco vazia pra ser recipiente de flores
Meu corpo está um pouco contaminado pra entrar algum feixe de luz
Estou um pouco cinza para ser feliz
Por isso não me peça pra salvar ninguém
Nem pra ser amor nem vida
porque eu estou em decomposição por dentro..
É, eu já estou um pouco morto por dentro
E aí se puder não me entenda mal, nem leve pro pessoal
Minha falta de jeito, essa maneira crua de bater com as coisas
É que também está um pouco árido aqui
E quase nunca pedi nada,
também foram poucas as vezes que me viu chorar
Mas num instante,
se puder me ausentar desse jogo de bom e mau,
vilão e mocinha, é tudo que eu poderia pedir
Não há nenhuma elevação espiritual por aqui
Deixa pra lá
Esquece toda essa baboseira dramática,
amanhã estou de pé, com a mesma cara amarela de antes,
e juro que ninguém vai reparar
Levando comigo na velha mochila todos os meus demônios dentro
E tudo vai passar, inclusive meu coração
O hoje já era
domingo, 24 de junho de 2012
quinta-feira, 21 de junho de 2012
O menino que não era de papel
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Samba da separação
Pegue suas roupas e retire tudo que é seu daqui,
pode levar..
Tire aquela camisa velha que eu usava de pijama,
e leve junto todo aquele sentimento que vinha com você
Chega, e chega sem querer
Vá saindo,
da minha vida, do meu corpo e das minhas ilusões
Ahhh... das minhas ilusões
Vá arrumar confusão em outro coração...
outro bobo pra servir de sua nova paixão,
alguém pra você usar de remendo
Chega
E todo mundo já tinha me avisado que não ia dar em nada,
que você é caso perdido, papel amassado
Mas eu pensei,
bem sei lá, as vezes o acaso ou qualquer outra força ia juntar os nós
e bem, bem você também não fez
Sei que você podia ficar,
e eu sei, é, eu também sei que eu poderia aguentar
por dias, meses a até anos quem sabe,
a gente brincando de amar, odiar,
enrolando perna com perna,
peito com abdômen, num jogo sem fim,
só pra ver sair fogo do atrito
E eu sempre assim, tão crua, tão sua,
ainda parada na espera da espera
Mas não, vá fazer seu carnaval em outro lugar,
pois se você não viu, já passou da época
é, você tá passado de época
Você tá passado em mim
Não sei o que me deu, que é que se deu,
que hoje eu não tô afim
Vá homem,
que hoje tô com o coração cheio,
o cabelo acordou brigado comigo e logo vou aproveitar,
hoje o meu samba é pra que você se vá
E vá...
E vá..
Você e sua tortura em outro lugar
Não mais do lado de cá
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Meu nome não é José
Um dia José foi embora. Não deixou bilhete de adeus nem nada, apesar de saber da beleza triste que o adeus tem. José saiu. Saiu de casa, dos antigos amigos, dos seus medos, da antiga vidinha medíocre que ele havia levado até então. Ele apenas cansou-se de ser José você me entende? Ele começou a pensar "Que porra de nome é esse que me deram? Eu não me sinto como José, quero inventar meu próprio nome". Esses pensamentos começaram a consumi-lo, ele ficava pensando em Roberto, ou em um nome composto talvez, ele sempre achara tão chique nomes compostos. Em seu trabalho ficava cantarolando e dançando músicas que jamais havia escutado. Na igreja enquanto todos clamavam e pediam e pediam, José travava uma luta interna, como se brigasse contra alguma coisa, como se não entendesse bem como deveria comportar-se ali. Sentia um nó no peito inexplicável a todos os instantes. Em todos os lugares José sentia desejos estranhos, que ele não podia identificar bem, mas sentia que deveria disfarçá-los. As vezes ele saía a noite e via umas cores no céu, rosa, lilás, azul, noutras era tão escuro que nem ele se via. Depois ele voltava ao normal. Depois sua vida voltava as mesmas cores cinzas. Quando estava só, subia em cima do telhado de sua casa e por muitas vezes sentiu-se o Rei do mundo. José nunca conseguiu explicar essa sensação. Quem sabe ele realmente era. Seus pensamentos começaram a ficar mais intensos, arrogantes e mal-educados, eles não escolhiam mais lugar para aparecerem. Não importava onde ele estava nem com quem, sua cabeça não o deixava em paz. Quase sempre cheia de "por quês", o que estava fazendo ali, se o que ele sentia era o "para sempre" ou se toda sua vida era só um sonho. José achou que estava louco, ficou triste, revoltado, sempre fizera tudo que lhe pediam, ia a igreja comungar, tinha um trabalho que lhe ocupava o dia, uma namorada que ia casar, pensou que era um tipo de doença ou sarcasmo de Deus, mas que mal ele haveria feito meu deus?, José assim pensara. Aquela luta de José com algo que ele não podia denominar estava lhe tomando tudo. Ele rasgou suas roupas, e passou 3 dias andando pelas ruas pra ver se sua angústia passava. Então começou a ver árvores, flores e o céu se movimentando e conversando com ele, e nessas horas sentia-se momentaneamente pleno. Não sentia fome, frio e nem medo, só algo queimando dentro dele. E para José como era difícil não ter um nome para pôr a culpa, para descarregar a dor, sabe como é? Ele estava cada vez mais lúcido. Sua namorada levou padre, pai de santo, pastor e o que mais fosse, chegaram a um veredicto: José estava com encosto. Nada o curou. As pessoas o viam nas ruas e pensavam: pobre rapaz, tão jovem, com uma vida inteira já pronta pela frente. Aí ele sentia mais dor. Será que ninguém nesse mundo ou em outro poderia o compreender? É meu amigo, você está sozinho nessa, talvez nem você nunca vá. José, José.. Nada mais lhe cabia, sem trabalho, sem mulher nem amigo. José começou a sentir-se pleno, como em raras vezes sentira, e apesar de não entender exatamente como, foi assim que decidiu ir embora. Pôs que pôs na cabeça que seu nome não era José, que havia sido um erro técnico, falha do cartório, e não tinha quem tirasse isso dele. Vestiu a roupa de um digno Rei do mundo, pois era assim que ele se sentira, e resolveu tomar posse de tudo que era seu. Saiu pra curar aquela dor terrível que o corroía por dentro. Decidiu que seria mais sensato deixar que as coisas que ele sentia se expressassem independente da forma que elas assumissem. Resolveu uma vez na vida ser bom com ela. Buscaria aquela sensação de plenitude, e não usaria mais roupas se para isso fosse preciso. Descobriria o quanto se dura a eternidade, e o mais importante, arrumaria outro bendito nome pra ele. A que custo fosse. José queria ir até o fim dele mesmo. Ele levara a sério aquela história de Rei do mundo e de si mesmo. Depois de 28 anos finalmente José poderia se conhecer, crú, exposto, na carne viva. Começou tentando se livrar de velhas culpas, e de certas pessoas também. Achou por um minuto que se tentasse ser o melhor com ele mesmo, somente assim poderia sentir-se gente de novo. Vivo em vida. E pela primeira vez ele viveu, e de novo e de novo. Alguns dizem que ficou louco. Só sabe-se que ele nunca mais voltou. Sabe-se lá que nome tem agora.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Reza a reza do sertão
Deita que o coro que arde e queima a pele,
que a vida que grita ainda é a mesma que te faz dormir
Espera, não espera, não espera
que quem esperou ainda tá no mesmo lugar
Olha o que o olho tá te mostrando,
ele tá deixando na carne viva pra tu vê,
ele sempre deixa tudo pra gente vê
Mas você não viu,
tava correndo demais, só não sei de quê ou pra quê
Me diz aí, me diz você
A semente virô flor, as borboleta foram embora, faz tempo que não chove aqui
Não, isso tu também não viu
Tá tudo seco, dentro de tu também
Eu sei que tu sente dor pelos "buraco" que te fizeram,
não, não tô falando daquela cicatriz não
Mas só vô te dizer uma coisa,
teu buraco tá ficando cada vez maior,
daqui a pouco tu se afoga nele e nem cristo pra te tirar daí
Eu sei que tu sente dor, eu sei, mas não é isso que eu quero falar
Faz tempo que tu esqueceu daquele forró pé de serra
que a gente dançava, das tardes no sítio embaixo das árvore,
Daquele dia que a gente achou que ia vivê pra sempre
Porra cabra, vô te falá que sinto tua falta viu,
acho que tu esqueceu de olhá de novo pra vida,
ficô sentado esperando a vida que tu sonhava,
sentado esperando a vida que tu sonhava..
E a vida te levou cabra.
Tu não deixou ninguém te amar,
e culpou todo mundo pelos buraco que só tu podia consertá
A vida não vai te deixá dormir não
Eu quero é vê quem não se comove com sol da manhã,
alguém pra te escutar, e homem passando fome
Eu quero é vê
Faz tempo que tu não fala,
faz tempo que não escuto tua voz,
tu só fica repetindo aquela conversa de "quando eu for, quando eu tiver.."
Acorda hômi! Tua solidão aí te corroendo e tu querendo o quê?
Quer preencher o coração é?
Já cansei de te avisar que a vida passa e tu nem vê,
só cuidado pra esse teu abismo aí não te levá pra longe de mim demais
Reza a lenda que no sertão hômi que seca por dentro vira areia também num sabe?
se mistura com a desertidão da paisagem
Caminho das Águas
Me faz fundo
Quero ser paisagem
Como um desenho sutil que quase não se nota,
de tão pertencente que ele é
Não miragem, não, não miragem
Quero ser parte do que é belo,
não porque é perfeito,
mas justamente porque é real
Porque tem riso,
tem choro, alegria e euforia,
mau-humor,
e muita muita vontade de existir,
se fazer viver em paz
Como em uma brisa,
canção, exílio pra alma
Que essa canção leve toda a vontade de ser,
e deixe somente o que é
Venha como recinto para que eu possa ser o meu deus,
e para que eu sinta deus na vida também
Repousar acordado do inferno que é viver,
sem preposições, argumentos ou contradições
Voltar ao lugar aonde o silêncio têm seu valor,
e antigos perfumes não servem mais para essa estação
Deixar que a carne se misture, a pele, o suor,
que vire uma nova composição,
que o vento leve, a água lave, e o sol queime
Tudo leve leve, terno e com cheiro de lar
Por fim sem fim,
olhos abertos para o que me comove,
para lembrar-me sempre que sou passageiro,
apenas viajante desse pequeno lugar
domingo, 27 de maio de 2012
Tortura das (minhas) Horas
Não tenho o que falar. As palavras foram tomadas de mim como nas outras vezes. Fiquei aqui. Fiquei só. Fiquei pairando em minhas lembranças, delírios, e em minha felicidade vazia. Fiquei e fiquei sem justificar. Sem fazer cara de perfeição. Sozinho recitando minhas velhas poesias e vendo o sentido apenas nisso. É tudo que eu aprendi a fazer. É o que sei fazer de melhor. Vou me recolher, apenas assim. Não sei até quando. Não é bem isso o que desejo. E o nó dos mundos que há em mim. E esse desassossego que não me deixa dormir. Pra viver tem que sentir todas as sensações. Pra viver tem que ter algum tempo de reclusão. Pra viver tem que ter tanto, e ao mesmo tempo nada. Tem que ter paz. Mas como ter paz meu deus, com uma bola entalada na garganta que não te deixa respirar direito? Que não te deixa parar de questionar o sentido das coisas, o caminho do ser. E são tantas confusões. Um monólogo de duas vias, e que insiste em mudar a direção do olhar, sempre para o outro lado quando confrontado. Perco a paz e ainda sim prefiro o silêncio. Não sou habilidosa com as palavras. As vezes me dói o peito, e me dói muito. Acho que parte da dor é por não saber de onde ela vem, as vezes ela coexiste com minha respiração. E dói ser assim. São dois altares que habitam em mim, em uma guerra sem paz, uma batalha sem vencedores. O olhar distante de todas as coisas que me cortam por dentro, a existência e as respostas que eu nunca terei. Por outro, a vida linda e sua simplicidade, a beleza de viver o presente. A resposta deve ser acostumar-me a falta dela. Culpa do Fernando Pessoa chacoalhando demais meu coração. Você me deve essa.
“Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.”
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.”
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)- Passagem das horas
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Mistura heterogênea
Mania essa de ficar procurando o quê das coisas, o seu sentido subliminar, suas pequenas e grandes belezas. Você ainda vai enlouquecer desse jeito. Tem papo mas não tem química, tem “física’’ mas não tem papo, é bonito mas não tem nada haver, e por aí vai, e por aí a gente segue meio perdido nesse emaranhado, buscando direito nem sei o quê. O que sabemos é que nunca estamos satisfeitos. Um “tudo bem” nunca é pleno. Nessas horas seria bom lembrar que a insatisfação é parte da natureza humana, as coisas nunca seriam como gostaríamos que fosse. Primeiro porque (grande)parte do que imaginamos é idealizado, ou seja, não existe na realidade, e a outra é de que a realidade pode ser muitas vezes surpreendente, assim como os contrastes e as cores. As vezes penso que essa tal de felicidade deveria deixar de ser tão esnobe e começar a usar chinelos de dedo, sempre tão alta, sempre tão superior. Mania de ficar buscando cheio, vivendo cheio, coisa feia isso. Os momentos não precisam ser vividos integralmente, como se cada instante devesse me dar uma sensação intensa e plena (não posso esquecer-me dessa observação), cada situação tem sua beleza, e juntas fazem sentido. Não precisam ir a fundo de si. Mais leveza a essa vida amarga e à nossa “amarguez” por favor! Buscando a plenitude, a serenidade, o desejo e o tormento, tudo junto, de uma vez só. Esquecemo-nos de nós. Dos nossos inúmeros medos, dos dias em que estamos chatos, ou o quanto também somos fúteis. Nada disso é fácil. Mais fácil é enquadrar logo, o feio que é legal mais feio, a amiga que é interessante mais impaciente, o namoro que precisa virar casamento.. Olhar para essa mistura complexa de que somos feitos, com o olhar de que também somos parte dela, e o melhor, que enquadrar-nos é mero romance teórico. Amo literatura mas não sei nada sobre Geopolítica, adoro a natureza mas odeio atividade física, admiro a simplicidade da vida mas morro de medo de me expor para as pessoas. Confuso não? Bem-vindo também. Nem por isso devemos ser separados entre bons e maus, virgens e pervertidos, covardes e corajosos.. Pois somos formados essencialmente dessa confusão, e é isso que dá beleza a coisa. Transformamo-nos a cada instante, e como diria Mário Quintana,"nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar." E mais, surpresas agradáveis estão aí o tempo inteiro para dar uma tumultuada nas tardes vazias. Amadurecer também significa perceber essas pequenas coisas. Por isso, da próxima vez que pensar em sair correndo, espero relaxar um pouco e pensar “calma, é calado mas é interessante”.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Mergulho de rio
Tem dias que a gente só espera. Espera por um encontro, por
uma festa, uma prova, pelas coisas que ainda hão de melhorar. Tem dias em que a gente não se contém de tanta
ansiedade de querer. Sempre no outro dia. Hoje eu quero pensar em 1 minuto,
somente nele. Do meu cansaço que meu corpo denuncia, da minha falta de vontade
de soar inteligente, desse ventinho que passa por aqui e me faz sentir uma
sensação boa. Sim, o mundo vai continuar doente, as provas não vão deixar de
existir, e talvez todos nós continuemos incuráveis. É.. o mundo não vai deixar
de rodar. Hoje eu respeitarei 1 minuto em mim. E tudo que eu peço dele. E tudo
que ele pode me dar. As vezes isso é tudo. Quantas vezes as coisas
falam por si, e nós as calculamos, medimos, e não fazemos o
essencial, escutá-las. Deixar que elas se mostrem como são. As vezes é só isso.
Sem esse negócio de futuro, passado, nem nada disso. Deixa o vento entrar, a vida me comover
nesse instante. Sem muito. Sem essa culpa de algo que não foi feito. Sem essa
condição do ser humano de ser feliz ou triste, vazio ou cheio. Deixo entrar,
pode vir. Noutro instante não sei o que será, mas me prometi que isso não seria
o mais importante agora. É.. as questões existencialistas não vão deixar de
existir, nem por isso eu irei. Aceito esse momento, pode tomar conta de mim. Amanhã
sempre será outro dia, independente da perspectiva. Por ora eu deixo o vento
falar por mim.
domingo, 13 de maio de 2012
Queima de estoque
Deus que me livre de mim mesmo.
E dessa mania de querer, e ser, e ser..
Deus que afaste de mim esse ego enorme, essa vaidade maldita.
Não sei como aconteceu,
na loja eles não avisaram que haveria o risco de eu me tornar robô.
Não doeu, não demorou, nem consentido ou o contrário disso.
Esses dias mesmo fui vendido, 15,99, estava na liquidação.
Num cantinho da cesta, na seção da coleção passada.
É, eu realmente estava mesmo meio passado.
E nos potinhos dos remédios, nas roupas das lojas,
nada de cápsulas, nada de tecido,
o que vendem-se são as promessas de felicidade, liberdade e
irresistibilidade.
Instantâneos, e à pronta entrega de preferência.
Quem poderia dizer não?
Eu também não..
Na televisão, nos comerciais, nas pessoas,
de um consumismo agressivo,
que fere só de se estar perto.
Creio que assim tornamo-nos animais novamente pouco a pouco,
onde querer e comprar se tornou tão natural quanto viver (sem ''demonizar'' nada disso).
Errei a mão no caminho e fiquei assim,
meio que como todo mundo,
meio branco.
Era impossível não digerir um pouco do que me era dado.
Sinto sede e fome, e é óbvio, de muitas coisas.
Não tenho mais nada a dizer,
pois chio agora baixinho,
cheio de sentimentos estranhos,
e muito branco dentro de mim.
Nem quero dizer mais nada,
pois agora sou apenas mais um produto de liquidação.
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Ataque Humano

Esse mundo tá estranho,
isso daqui não tá certo.
''Tão'' enfiando gente por tudo que é lado.
Eles não se dão nem ao trabalho de pedir licença
ou desculpa pelo incômodo que causam.
Cruzes!
As coisas não são mais como antigamente..
Ah, naquele tempo sim.. Aquilo que era vida!
Essa espécie tem o que eu mais odeio;
Falam alto, se aglomeram,
sujam todo lugar que passam, e o pior,
insistem que são melhores que outros iguais a eles.
Eu devo é rir de tudo isso..
Antigamente podia chamar isso aqui de lar,
hoje nem sei mais que cara tem.
Eu hein!
Vou pegar minhas coisas e me mandar daqui,
pode ser contagioso!
quinta-feira, 19 de abril de 2012
Você não era Poesia
Hoje percebi algo. Poesia é só poesia. A vida é só uma pontinha disso tudo. Um poema não significa minha face estampada em palavras. O autor é como um artista, ele recria a vida, a dor, a morte, e tudo o mais que lhe der na telha. Ele está ali. Posso vê-lo. Mas também estão um outro milhão de coisas. A estética final. As rimas. A imagem que se forma. O mundo que ele não tem. A ideia do que se deseja. Personagens que tomam forma e personalidade. Não deveria se levar tão a sério assim tais palavras despretensiosas. Mais do que traçar um desenho, elas pedem para formar uma boa combinação. Palavras são só saltos curiosos rumo a um sentimento novo. Dá orgulho. Medo. Alívio também. Mas isso não deveria ser levado tão a sério. Uma pessoa não é seu poema. Até que enfim entendi isso.
Entre pela porta da frente
À todas as pessoas que quero o que não devia.
Sente e sinta-se a vontade, vá logo entrando em minha casa e nem precisa pedir licença. Vá tomando conta do sofá, naturalmente se acostumando com o desconexo da minha bagunça. Te farei sentir em casa. Mas faça tudo isso sem que eu perceba. Vá tomando como natural tudo que é meu, sem me tirar de mim mesmo é óbvio. Prezo muito por minha solidão. Mas esses toques irão ajudar. Não espero que cheguemos a lugar algum, o objetivo aqui não é o ponto de chegada. Me agrada muito essa idéia de sermos amigos. Prefiro até essa denominação do que de namorados ou qualquer coisa do tipo, já que amigo é coisa boa. Quando eu percebi já estava assim, tomado de você. Sabia seu gênero musical predileto, o que detestava comer, e do seu medo ridículo por baratas. Acho que gosto de você. E não vou mais me convencer de que não devo sentir isso. Seria como um ateu se apaixonar por uma freira. Absurdo não? Eu sei. Não sei que tipo de alimento se deva dar para um sentimento assim. Mas devo dizer que não quero muita coisa não. E me envergonha um pouco admitir isso. Mas decidi, apenas quero. Quero você, mesmo que seja pra descobrir que foi tudo idiotice depois. Que você é um grande babaca, ou que apenas não estamos vivendo o mesmo momento. Eu quero mais por mim mesmo sabe? Deixemos pra lá todos esses olhares. E a sua cabecinha que vai dizer que é feio querer algo que não se pode. Hoje não terá espaço para culpa no meu coração. Mas prometo que não irei pedir duas vezes se o primeiro for não. Posso te fazer olhar com aqueles olhos grandes e curiosos, mesmo que nada disso seja sério depois. Hoje podem avisar a todos: temos uma calamidade social! Estou querendo, e neste momento isso é tudo.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Que me desculpem as comédias românticas
Por: desconhecido
Quadro de ladrilhos
Sou eu e a cidade,
e por um instante sou o Rei do mundo
Incontáveis desenhos geométricos,
de formas das mais variadas,
pequenos, grandes, retangulares
Tantos mundos juntos,
divididos apenas por algumas paredes
Ao meu lado uma mãe cuida de seu filho,
do outro eu não tenho nem idéia do que possa ser
E apesar das paredes serem de espessura fina,
elas são gigantes
Como o muro de Berlim
São muitas vidas que não se vivem,
mas apenas compactuam de um mesmo lugar
Daqui de cima vejo tanta coisa,
imagino uma cena ao ver uma senhora sentada em sua sacada,
suponho um romance ao observar homens e mulheres
Penso que ninguém sabe realmente o que acontece
Nem aqui, nem no prédio ao lado
E a roda-vida segue seu fluxo,
e as paredes continuam intactas
e por um instante sou o Rei do mundo
Incontáveis desenhos geométricos,
de formas das mais variadas,
pequenos, grandes, retangulares
Tantos mundos juntos,
divididos apenas por algumas paredes
Ao meu lado uma mãe cuida de seu filho,
do outro eu não tenho nem idéia do que possa ser
E apesar das paredes serem de espessura fina,
elas são gigantes
Como o muro de Berlim
São muitas vidas que não se vivem,
mas apenas compactuam de um mesmo lugar
Daqui de cima vejo tanta coisa,
imagino uma cena ao ver uma senhora sentada em sua sacada,
suponho um romance ao observar homens e mulheres
Penso que ninguém sabe realmente o que acontece
Nem aqui, nem no prédio ao lado
E a roda-vida segue seu fluxo,
e as paredes continuam intactas
quarta-feira, 11 de abril de 2012
Pedaço do Céu
Hoje tive a confirmação.
Avisem a todos: A terra está queimando!
Começou nos meus pés, mas quando senti meu peito e minhas mãos tremularem tive certeza.
Por um minuto, ou até menos, fui feliz.
Eu poderia ter feito qualquer coisa,
mas apenas fechei os olhos e permaneci sorrindo.
E aquilo tudo foi mágico!
O Paraíso é emocionante!
É leve!
E tem o tamanho da minha cara nesse mundo.
Sou eu tentando chegar ao mais cru de mim mesmo,
honestamente, sem culpa e sem medo.
O mundo queimando e eu perplexo pelo caleidoscópio de cores.
Enfim eu entendi,
e foi lindo.
Avisem a todos: A terra está queimando!
Começou nos meus pés, mas quando senti meu peito e minhas mãos tremularem tive certeza.
Por um minuto, ou até menos, fui feliz.
Eu poderia ter feito qualquer coisa,
mas apenas fechei os olhos e permaneci sorrindo.
E aquilo tudo foi mágico!
O Paraíso é emocionante!
É leve!
E tem o tamanho da minha cara nesse mundo.
Sou eu tentando chegar ao mais cru de mim mesmo,
honestamente, sem culpa e sem medo.
O mundo queimando e eu perplexo pelo caleidoscópio de cores.
Enfim eu entendi,
e foi lindo.
quarta-feira, 4 de abril de 2012
Mande um beijo à Mamãe e ao Papai
Sonho contigo. As vezes tens cara de bicho, as vezes de gente. Recordo-me sob uma janela embaçada tanta coisa. As vezes ainda me dói o quanto tento atrair teu afeto, ser merecedora dele. De tanto você me ensinar a ser forte e a engolir o choro, de dizer que as pessoas não podem ser tão sensíveis assim, acho que aprendi como se deve ser. As vezes parece que vivemos em dois mundos. Vocês aí, vendendo esse lar que me falta tanto, as discussões e brincadeiras. Constantemente nos pegamos em conversas do tipo: ''Oi, tudo bem? Como estão as coisas?'', como são com os conhecidos, noutras nem a isso nos damos ao trabalho. É que é superficial demais, a realidade concreta iria doer se soubéssemos da verdade: nós não moramos mais no mesmo mundo. Eu aqui, ora feliz por saber que sou humano e posso existir em paz, ora com saudades, vazia. Como já escutei algum dia, e creio que seja bem assim mesmo, algumas vezes dói estar longe, noutras é um alívio. Tento em vão perguntar, ''Tá tudo bem?'', ou ''Você está triste?", nada me responde do outro lado da linha. Você não quer me magoar, talvez ache que eu não devo me atordoar com isso. Tento despertar algum sentimento, qualquer coisa, só pra saber que ainda temos algo em comum. Sei também que nossos momentos tornam-se constantemente privilegiados (tempo, tempo, você outra vez). Lembro-me também dos gritos, das discussões, de um desejo estranho que algo se concretizasse de uma vez. Mas já faz algum tempo que parou de doer sabe, nunca mais nos preocupamos com isso, acho que vocês também não. Será que meu perfume novo não tem mais o cheiro da minha antiga casa? E o que mesmo posso denominar de casa? Nem um nem outro, nenhum dos dois lugares acalmaria isto que chamo de alma. Talvez eu esteja mesmo meio só, e não acho que seja bonito ser assim não. Um misto de culpa, necessidade e alívio. Sou um desgarrado agora. Vivo fora de casa.
sábado, 24 de março de 2012
Lembranças ao Pequeno Príncipe

Por cima desse cometa agora vejo o mundo. Olho depressa, pois o cometa não permite que eu admire com calma nenhuma paisagem. E não o culpo por isso, é da natureza dos cometas ser assim. Se quero conhecer alguma galáxia, ver uma nova constelação de estrelas ou comer o queijo da lua, ora, eu que devo me mudar deste que me encontro nesse momento. No mesmo pulo corajoso e incerto que consegui me agarrar à sua calda. Penso que na vida também deva ser assim. Não vou dizer que pensamentos tortos e preguiçosos não rondam-me enquanto reclamo dessa correria que o cometa me causa, porque agora também aflige-me o medo do salto, que cresce mais a cada oportunidade. Como já havia calculado antes, meu pulo deve ser rápido e firme, para que eu não caia com muita força e me esborrache no chão. As vezes sinto por não pertencer a nada, não sou da Terra, nem de Júpiter, e não formo nenhuma constelação com o nome de algum animal. Não sou de uma espécie, e nenhuma generalização que me caiba, talvez por isso tenha me tornado tão parecido com o cometa. Não vou dizer que não me sinto vazio. Acho que mudei desde que comecei essa viagem. Em contrapartida, já pude visualizar inúmeras paisagens, e perceber de longe o quanto seres de alguns planetas são contraditórios e engraçados. A melhor parte é imaginar como cada um desses lugares seriam, e como seria se eu também estivesse lá. Isso sempre me faz adormecer. Agora pensando, talvez por isso eu não tenha pulado de vez, acho que por medo de não ser como nos meus sonhos. Antigamente eu tinha um lar, nome próprio e me encontrava com seres iguais a mim. Nada me curou. Saí depressa para não repensar na despedida, deve ter sido melhor assim. Mas confesso que sinto falta de como o calor do Sol me fazia sentir vivo. Suspeito que tenho esperado algo que me faça sentir assim novamente. Hoje aqui estou eu, incurado ainda, mas acho que mais terno. Ouvi falar sobre um menininho loiro que percorrera esse caminho a alguns séculos atrás, sei que ele entenderia como me sinto. Penso que devo ter tomado medo das criaturas, e apego demais a esse velho cometa, que nem sequer pergunta se acordei bem. Mas também nunca pediu que eu me retirasse, carrega-me como barragem há um tempão sem reclamar. Cada vez que olho um planeta meu estômago gela por inteiro, minha cabeça diz que irei cair e continuar a ser anormal, mas meu corpo implora para acabar de vez com essa tortura. Ora dessas eu pulo, e tomo coragem pra ver que cara esse tal de mundo tem. Qualquer dia, topo distraído com o remédio pra curar minha doença de mundo. Aqui no meu cometa mesmo, ou em qualquer salto sob as estrelas.
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